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Mostra Respiro: o mundo do trabalho em saúde
Fruto do Projeto “Apoio-investigação para trabalhadores da saúde: (Co)movendo a vida entre (ultra)penosidades e (re)existências”, a Mostra Respiro, que acontece no dia 01 de setembro, é um convite para revisitar as partilhas e os aprendizados de 2 anos de encontros para refletir sobre o trabalho em saúde na pandemia. A Mostra é uma realização da equipe de gestão do Respiro e de seus pesquisadores, com a colaboração de parceiros e interlocutores do projeto.
A organização da Mostra foi pensada em dois grandes momentos. O primeiro deles, na parte da manhã, é dedicado aos Assentamentos, Encantamentos e Partilhas e tem como desdobramento a performance e prática de cuidado. O segundo momento é dedicado as encruzilhadas, quando passamos pela Exposição Respiro e celebramos com a vida que dança.
A manhã do primeiro dia de setembro inicia a programação com o acolhimento dos participantes e o processo de construção da metodologia apoio-investigação. Logo após, Aline Bernardi apresenta “Encantografando cores”, uma dinâmica que chama os inspiradores dos sete eixos do Respiro para a roda de conversa sobre as dimensões do trabalho em saúde. A metodologia apoio-investigação foi uma experiência relacional permanente dos pesquisadores tecida nas interações com os trabalhadores de saúde.
Para evocar as palavras de força que guiaram o Projeto nesse caminho, Patrícia Ferreira convida para a prática “Re-ativismo pela vida – Respirar, co-mover e (re)existir em partilhas criativas de mundos”.
Após o intervalo, as atividades recomeçam com o cortejo Respiro e Guilherme Hadasha em um convite brincante aos trabalhadores da saúde. Seguindo a programação pela tarde, a Exposição Respiro é o momento de vivenciar as grafias do trabalho em saúde e de conhecer os materiais produzidos ao longo do Projeto, como os Cadernos Respiro, o Reinventário, o Albúm Respiro, entre outros.
Para o momento das Vivências, os sete eixos temáticos, que se dedicam a apoiar e a investigar mais de perto as sete dimensões associadas à insurgência de penosidades e (re)existências no cotidiano do trabalho em saúde na pandemia, preparam atividades para compartilhar afetos e sentidos de ser trabalhador(a) da saúde.
O encontro com o pesquisador e pedagogo, Luiz Rufino, é mais um dos momentos esperados do dia. Ele dará pistas sobre o que são “as apostas na encruzilhada”. Rufino utiliza da ideia da encruzilhada como um enorme campo de possibilidades, prática de invenção e afirmação da vida. Ele faz um convite para radicalizar a produção de conhecimento na medida em que aponta para a perspectiva de rompimento da lógica moderno-ocidental que desincorpora os saberes.
Com Laís Salgueiro e Ferran Tamarit compartilhamos a vida que dança entre penosidades e (re)existências do trabalho em saúde. Segundo as organizadoras, todas as atividades foram pensadas como momentos de pausa e de reflexão profunda e coletiva, possibilitando revisitar aprendizados, sentimentos e vivências a partir do mundo do trabalho em saúde. É um convite para sonhar junto sobre o que vem depois.
Mostra RespiroData: 01/09/2022
Horário: 9h às 17h
Local: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. Av. Brasil, 4365 – Manguinhos, Rio de Janeiro – RJ
Faça sua inscrição aqui!
Ateliê Respiro: vivo e pulsante para a Mostra Respiro
Após cinco meses e 11 encontros quinzenais, o Ateliê Respiro inicia a fase de planejamento e vivências para a Mostra Respiro, que acontece no dia 01 de setembro de 2022.
E para celebrar a experiência e partilhas vividas durante esse percurso, apresentamos a seguir uma retrospectiva do Ateliê.
No primeiro encontro retomamos os assentamentos, encantamentos e partilhas na direção de reafirmar e atualizar os fundamentos teóricos, metodológicos, práticos e afetivos do Respiro.
Nas semanas seguintes, caminhamos pelos resultados da catalogação das notícias e das pesquisas, revivemos as rodas de conversa e cuidado, experimentamos as entrevistas com os trabalhadores por meio dos sentidos, construímos a versão preliminar do “Mini Caderno do Curso: uma produção coletiva entre discentes e docentes”, a partir de tudo que foi compartilhado na Comunidade de Aprendizagem e gerado durante o curso.
Em maio, inauguramos uma nova fase, na qual os sete eixos, representados por sete cores, apresentaram seus assentamentos, encantamentos, partilhas e encruzilhadas, expressas nos desafios, potencialidades e sentimentos que foram aflorando durante a caminhada de cada eixo.
Foram discutidos os processos de subjetivação do trabalho e dos trabalhadores da saúde no contexto da Covid-19, partindo dos discursos circulantes na sociedade que constituem as diversas concepções de vida e de trabalho que reverberam na realidade de ser trabalhador da saúde. Refletimos sobre as penosidades e (re)existências, a partir das políticas e gestão do trabalho e fomos mais além do entendimento do conceito de condição de trabalho, muitas vezes visto apenas como as experiências da falta de recursos materiais, recursos humanos e de medidas de proteção ao trabalho. E assim olhamos também diferentes dimensões de penosidades que já existiam, como por exemplo, o sentimento de desvalorização e de invisibilidade.
Diante da proposta do cuidado integral pelas equipes, foi observado que há uma diversidade de estratégias, nos diferentes níveis de atenção em saúde, bem como nas relações envolvidas no cuidado, seja com o usuário, com seus familiares, entre os profissionais da equipe, com a instituição, com os gestores e do próprio trabalhador consigo mesmo.
Fomos instigados a olhar para as trajetórias dos trabalhadores e trabalhadoras da saúde a partir da interseccionalidade, com foco nas relações de gênero, raça e classe. Além disso, refletimos a importância da narrativa no processo de rememoração e as mudanças nas percepções corporais durante a pandemia e sua relação com o cuidado em saúde, com o corpo feminino e com diferentes corpos de diferentes cores, raças e lugares sociais.
Na perspectiva da saúde do trabalhador, a espiral do cuidado foi um dos caminhos para entender como a situação da pandemia lança um novo olhar sobre a necessidade de cuidado dos trabalhadores da saúde e faz com que trabalhadores que cuidam da saúde de outros trabalhadores se mobilizem para a construção de novas estratégias para produzir cuidado a outros trabalhadores que vão cuidar de outras pessoas.
E para “Cuidar de si, Cuidar do Outro e Cuidar do Mundo” estabelecemos um diálogo com as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), sejam contemporâneas, ancestrais ou racionalidades tradicionais, entrelaçando dimensões inseparáveis do cuidado e propondo reanimar práticas de pensamento que buscam dar centralidade às relações que o cuidado suscita.
Ao final, trouxemos também para a pauta os ecos de (re)existência sentidos pelos sete eixos temáticos do projeto e as encruzilhadas, entendidas como os lugares de chegada que dimensionam o caminho como potência e como algo inacabado.
O nosso próximo lugar de chegada é a Mostra Respiro. E os encontros do Ateliê continuam vivos e pulsantes com os preparativos!
A Mostra Respiro é fruto do projeto de apoio e investigação com trabalhadores da saúde na pandemia. Queremos estar juntos, em mais um encontro, desta vez presencial, para partilhar aprendizados e afetos que atravessaram nossas atividades nesses 2 anos de experiências com os trabalhadores da saúde. A programação será divulgada em breve!
Acompanhe as novidades pelo Instagram @projetorespiro
Data: 01/09/2022 Reserve a data!
Horário: 9h às 18h
Local: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio
Av. Brasil, 4365 – Manguinhos, Rio de Janeiro – RJ
Ecos de (re)existências no Ateliê Respiro
O último encontro do Ateliê trouxe para a pauta os ecos de (re)existência sentidos pelos sete eixos temáticos do projeto.
Foi proposto como exercício para cada um dos eixos a reflexão sobre (re)existência, sem perder de vista a questão central do Respiro: como a pandemia repercute sobre os trabalhadores de saúde com a agudização de penosidades e possibilidades de (re)existências? Apresentamos neste post uma breve síntese das construções realizadas.
Para o eixo do Cuidado, retomando as reflexões apresentadas no Ateliê anterior, a (re)existência invoca um olhar de enlaçamento de práticas de pensamento e cuidado inspiradas na compostagem de quatro concepções: encantamento, interdependência, interepistemicidade e pensamento tentacular. Assim, a arte de cuidar envolve caminhos e potências de modos de ser e estar em harmonia com a vida.
Para o grupo da Saúde do Trabalhador, a (re)existência é entendida a partir de uma espiral do cuidado, em que a pandemia lança novos desafios aos trabalhadores da saúde que, por sua vez, cuidam de outras pessoas trabalhadoras, num movimento espiralar, fazendo com que esses trabalhadores se mobilizem para a construção de novas estratégias para produzir cuidado.
A escrita como um processo de (re)existência está entre as reflexões das pesquisadoras do eixo Experiências e Trajetórias. A partir da “escrevivência” de Conceição Evaristo, elas acreditam que a escrita pode se configurar como (re)existência, quando se coloca as marcas individuais no que está sendo pensado, sentido e escrito. Desta forma, o próprio fazer da escrita em conjunto configura-se como uma forma de (re)existir, pois permite a troca de experiências e possibilidades de modificar formas cristalizadas com as quais nos habituamos a ler o mundo.
Em relação a Saberes e Práticas, o grupo reflete que diante das exigências de cada situação, por meio de um intenso debate de normas e valores, o trabalhador faz escolhas de como agir, recriando e (re)existindo em um processo permanente de renormalização e inventividade, por meio das dramáticas do uso de si. O agir está sempre conectado a esse debate de normas e valores e a (re)existência seria resultado desse debate e das escolhas que o real exige para que o ser humano viva com mais saúde.
Sob o olhar de Condições de Trabalho, a (re)existência parte do questionamento da existência das condições de trabalho diferenciadas, precarizadas, vulnerabilizadas e que não são iguais para todos. A partir daí, surge a questão de como (re)existir nessas condições fragilizadas? O grupo recorre ao autor Albán Achinte, que traz a (re)existência como um conjunto de dispositivos que as comunidades criam e desenvolvem para inventar cotidianamente a vida e para confrontar a realidade que tem inferiorizado e invisibilizado negativamente a existência dessas comunidades desde a colonização.
Um dos olhares para a (re)existência no eixo Política e Gestão do Trabalho está na reflexão de Mbembe, na qual o direito à respiração expressa o direito à existência. Nesse contexto, (re)existir pressupõe antes existir com direitos plenos e inalienáveis de respirar e de reconectar a nossa relação com a natureza e com o tipo de sociedade que queremos: menos perversa, mais solidária, simples, desmercantilizada, ética e justa, na perspectiva de perceber a existência enquanto possibilidade que transborda na criação de outros mundos possíveis de se habitar.
E sobre as reflexões dos Sentidos e Valores da (re)existência? O olhar do grupo é sobre as pistas, ideias, jamais sobre um conceito. A (re)existência será sempre situada e relacional e, por isso, indefinível em uma essência ou capsulável. As (re)existências geralmente se opõem ao que é enquadrado e enquadrável dentro do sistema de significação hegemônico. Assim, (re)existir implica saídas, desvios, criação, sair dos enquadramentos normativos, das fixações identitárias, dos estereótipos que impedem outros modos de ser.
No Respiro, uma expressão da (re)existência em nossa interlocução com os trabalhadores se traduz como cuidado de si, o fortalecimento da comunidade, dos laços com a equipe, como espaço para a criação.
Cuidar de si, Cuidar do Outro e Cuidar do Mundo: fiando caminhos e potências
As partilhas realizadas pelos grupos temáticos no Ateliê foram encerradas com “Cuidar de si, Cuidar do Outro e Cuidar do Mundo”, associado ao trabalho de apoio-investigação do eixo do Cuidado no Projeto Respiro.
Este eixo propõe o alargamento do sentido do cuidado tendo em vista o grande desafio de apoiar/pesquisar, pesquisar/apoiar e de viver/cuidar. E estabelece um diálogo com as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), sejam contemporâneas, ancestrais ou racionalidades tradicionais.
“Cuidar de si, Cuidar do Outro e Cuidar do Mundo” entrelaça dimensões inseparáveis do cuidado e propõe reanimar práticas de pensamento que buscam dar centralidade às relações que o cuidado suscita. “É um desafio para nós do eixo trazer essas dimensões do título entrelaçadas, que é mais do que definições estanques em conceitos. Este nome surgiu a partir de encontros com ideias, saberes, palavras, imagens, práticas, afetos, intuições e uma grande necessidade de imaginar outros sentidos de cuidado conectados com a continuidade do mundo”, relembra Patrícia Ferreira (CSEGSF/Ensp).
Enquanto coletivo de práticas de pensamentos e experiências de cuidado, a caminhada do eixo também teve como ponto de partida a questão norteadora do Respiro: “Como a Covid-19 repercute sobre as trabalhadoras e os trabalhadores de Unidades Básica e Hospitalares com a agudização de penosidades e o surgimento de novas demandas e estratégias de (re)existência?”. Para o grupo, essa foi uma pergunta que gerou outras perguntas, como aquela que procura caminhos para entender “que práticas de pensamentos e experiências de cuidado proporcionam apoio (reanimação, recuperação parcial) para trabalhadoras e trabalhadores da saúde, tendo em vista as penosidades e (re)existências na pandemia e as possíveis novas práticas que podemos tecer, relacionando cuidar de si, do outro e do mundo?”.
O encontro e diálogo entre os assentamentos e os encantamentos apresentados pelo grupo passam por Madel Luz e Nelson Filice, por Donna Haraway, Ailton Krenak, Luiz Antônio Simas e Luiz Rufino. “Nós ligamos o cuidado a ideia que a Madel traz de racionalidade e outras epistemes, com a Haraway no pensamento tentacular e compostagem e que nos dá um pouco de solo para pensar o cuidado. A vida como valor em si e interdependência na perspectiva de Krenak, e com o encantamento e criação de sentidos de mundo de Simas e Rufino. São quatro linhas de pensamento que se conectam e que queremos visitar”, explica Patrícia.
As práticas integrativas e complementares em saúde são incorporadas ao eixo enquanto compostagens de práticas de cuidado. Segundo Inês Reis (CSEGSF/Ensp), “no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) há 29 práticas que foram aprovadas desde 2006. E isso representa uma oportunidade de ampliar o cuidar de si, do outro e do mundo. Mas, para isso, é importante entrelaçar saberes e vivências que fortaleçam as compostagens e encantamentos com a clareza da responsividade. Assim, com saberes distintos, estamos entrelaçando as palavras, ideias, pensamentos, relações e mundos.”
A partir das práticas de cuidado, o grupo navega rumo a mais uma questão: “é possível considerar as PICS como práticas de cultivo de outros modos de percepção corpo-mente-mundo, nas quais se experimentam técnicas ancestrais e contemporâneas, e seus saberes, como fio de conexão com a teia da vida, para lidar com as penosidades (desencanto), reativar o encantamento pelo mundo e (re)existir?”
No âmbito do eixo do Cuidado, foram ofertadas oficinas online de cuidado e acontecem semanalmente ofertas presenciais de práticas de cuidado nas Tendas Respiro, espaço criado pelo projeto. Segundo Inês, “até o momento, foram ofertadas cinco práticas de cuidado para 24 trabalhadoras e trabalhadores da saúde”. Patricia complementa “que as práticas realizadas na Tenda vão fiando caminhos, potências e entrelaçando dimensões existenciais que o grupo considera fundamental para pensar o cuidado”.
Para a produção da Coletânea, a experiência das oficinas será uma das pistas utilizadas para o aprofundamento e análises sobre as formas e representações do cuidado para trabalhadores e trabalhadoras, e na busca por possíveis caminhos para a compreensão de como o cuidado pode contribuir com práticas de pensamentos e modos de percepção do ser, estar e cuidar no mundo. “Cuidar do mundo é prestar atenção no modo como se presta atenção no mundo, na (re)existência, no respirar como pertencimento à vida e no co-mover, como movimento de criação coletiva de mundos para pertencer, mundos em comum”, reforça Inês.

A saúde do trabalhador e a espiral do cuidado
“Saúde do Trabalhador” e “Cuidar de si, Cuidar do Outro e Cuidar do Mundo” foram os eixos que encerraram em 24 de junho a fase de apresentações dos grupos temáticos nos encontros do Ateliê Respiro. Os sete eixos apresentaram os assentamentos, encantamentos, partilhas e encruzilhadas como parte da construção textual para a Coletânea.
Neste post abordamos o eixo Saúde do Trabalhador, que tem como propósito ouvir o trabalhador e suas experiências, seu ponto de vista sobre a atividade que exerce e vive. Este eixo tem como ponto de partida a potência do trabalho em saúde como produtor de saúde e de sujeitos e que pode servir de fio condutor no entendimento das relações e processos sociais, bem como berço de produção de cuidados e práticas humanizadoras.
As participantes do eixo pesquisam e atuam junto aos trabalhadores da saúde. “Nosso dia a dia se dá no ensino e na pesquisa e está relacionado à organização, processos, condições e relações de trabalho, além do atendimento psicológico e conversas com os trabalhadores, com o foco voltado para a relação saúde e trabalho”, explica Luciana Cavanellas (Cogepe/Fiocruz). “Estamos a serviço do cuidado de trabalhadores que acolhem, atendem, tratam e cuidam de pessoas em situações de adoecimento e sofrimento, em condições de trabalho adversas e precárias. E na pandemia, essa situação foi levada ao extremo, assim nos interessa compreender as penosidades vividas pelos trabalhadores e trabalhadoras e as possibilidades de (re)existência”, complementa Luciana.
As lentes que servem de referencial teórico para o grupo pensar o trabalho situado durante a pandemia são as clínicas do trabalho e a perspetiva ergológica, compreendendo que o trabalhador nunca é totalmente passivo ao meio, pois ele tenta recria-lo a partir das normas que acredita que vale a pena viver no trabalho. “Essa perspectiva teórica, que também é abordada em outros eixos, nos traz uma certa noção de (re)existência no trabalho. A partir das tentativas de renormalizações, há um corpo que insiste, persiste e (re)existe para fazer valer aquilo que acredita ser o mundo que deseja viver”, explica Marta Montenegro (Cogepe/Fiocruz).
Um dos objetivos do eixo é produzir um olhar sobre o cuidado, a partir da busca por alguns caminhos para entender como a situação da pandemia lança um novo olhar sobre a necessidade de cuidado dos trabalhadores da saúde e faz com que trabalhadores que cuidam da saúde de outros trabalhadores se mobilizem para a construção de novas estratégias para produzir cuidado a outros trabalhadores que vão cuidar de outras pessoas. Para elas, “esse movimento do cuidado é muito espiralar, e é esse movimento que já era anterior a pandemia que queremos discutir. São pessoas cuidando de pessoas que cuidam de pessoas que….” Assim, é a partir da pandemia que se pretende refletir sobre essa espiral do cuidado e entender o que se produziu de novo em termos de resistência e de (re)existência.

Para produzir a reflexão sobre esse movimento espiralar do cuidado, as pesquisadoras utilizarão o material produzido nas rodas de conversa e cuidado realizadas com trabalhadoras da saúde que ofereceram cuidado a outros trabalhadores da saúde na pandemia.
Diante dos desafios e potencialidades de olhar para a Saúde do Trabalhador, muitas perguntas surgem, por exemplo: De quem era a necessidade de cuidado? Qual cuidado? Que tipo de ajuda realmente ajuda? Como se estruturam as redes de cuidado aos trabalhadores de saúde? Quais os efeitos produzidos por estas redes para ofertantes e trabalhadores da saúde que receberam cuidados? Essas são algumas perguntas que foram tecidas ao longo das discussões do grupo e que apresentam potencialidades para a produção textual da Coletânea.
A apresentação finalizou com a leitura do poema Angústia de Geni Nuñez, psicóloga e ativista indígena. Para Geni, o afeto é uma das dimensões mais importantes da vida. E em consonância com ela, o eixo verde acredita que é possível fazer circular o afeto e reconhecer o cuidado a ser partilhado para revigorar e fortalecer pessoas e coletivos, (re)criando juntos.
“Agora sei que o cimento da colonização
Já não sufoca mais apenas ruas,
Não silencia apenas os rios,
Também acimenta nosso peito,
Mesmo com cuidado e cultivo,
Em partes do nosso território
Onde a água já não atravessa,
Só escorre…
Sinto que nessa parte,
o corpo ingere, sem aproveitar os nutrientes.
Passa direto. Por isso inundamos.
Por isso nos vem as enchentes nos olhos
e é preciso que a água entre,
rache, quebre o cimento.
Mas dói, dói muito.
Andar com os tamancos de cimento pesam nosso pé
Cansam nossas costas.
Mas já andamos há tantos séculos assim
que pisar na terra pode causar um estranhamento
Na angústia parece que o peito,
A dor no peito vai explodir e minar a saída
Mas lembremos que o corpo não tem começo nem fim…
Então nos abracemos
E nos recordemos que somos apenas afluentes,
Que assim como os sentimentos vieram, virão
E tornarão a ir e vir em espiral infinita.
Antes da pedra no sapato
Antes da pedra no caminho,
precisamos reconhecer
há pedaços de cimento em nós
no nosso pensamento, na nossa imaginação, nos nossos sonhos
Contra-colonizar não é colocar mais cimento nessas rachaduras de si,
mas festejar seu desabamento.”
Experiências e trajetórias nas imagens do feminino
O olhar para as experiências e trajetórias dos trabalhadores da saúde foi também tema do Ateliê que aconteceu no dia 10/06. O encontro foi parte das apresentações dos assentamentos, encantamentos, partilhas e encruzilhadas dos sete eixos do projeto, que farão parte da construção textual para a Coletânea Respiro.
As pesquisadoras do eixo laranja estão atentas para o olhar das trajetórias dos trabalhadores, ou melhor, das trabalhadoras da saúde a partir da interseccionalidade, com foco nas relações de gênero, raça e classe. Para isso, elas irão trabalhar com autores que as instigam pensar essas dimensões, refletindo sobre os imbricamentos com a história, a memória e a experiência. Estabelecendo, desta forma, um diálogo entre autores do materialismo histórico, como Walter Benjamim, e autores decolonias, como Conceição Evaristo e Nêgo Bispo.
Para pensar o trabalho feminino na pandemia, as pesquisadoras destacam alguns pontos que permitem estabelecer o diálogo entre os autores citados acima. Um desses pontos é a importância da narrativa no processo de rememoração e as mudanças nas percepções corporais durante a pandemia e sua relação com o cuidado em saúde, com o corpo feminino e com diferentes corpos de diferentes cores, raças e lugares sociais. “No começo do projeto, nos chamou a atenção um dos ensaios de Walter Benjamim “Experiência e pobreza”, no qual ele relata que os homens que voltaram da 1ª Guerra, não voltaram mais ricos em experiência e sim mais pobres. Pobreza essa que se referia, sobretudo, a impossibilidade de narrar, seja devido aos traumas sofridos, seja pela dificuldade de encontrar quem estivesse disposto a escutar. No contexto do Respiro, isso nos chamava atenção. Como iriamos conseguir fazer essas trocas de experiência durante projeto de forma remota? E nos surpreendeu muito essa capacidade de troca que tivemos, a possibilidade de simbolização e trocar narrativas”, ressalta Anna Violeta Durão (EPSJV/Fiocruz).
O diálogo com o campo da pesquisa será por meio de algumas entrevistas realizadas pelo projeto e do 4º Fórum Vivo Respiro, que trouxe o tema da interseccionalidade. Como diz Renata Reis (EPSJV/Fiocruz): “Selecionaremos as entrevistas a partir das dimensões de gênero, raça e classe. Assim, nesse recorte estarão presentes, não só os profissionais convencionalmente relacionados a linha de frente, mas outros trabalhadores que atuaram na Atenção Básica, na limpeza, recepção e em outros lugares.”
Em relação aos encantamentos, os materiais empíricos partilhados pelo Respiro, as pesquisadoras buscam estabelecer um diálogo com as histórias contadas a partir dos afetos que foram nelas despertados, ou seja, o ponto de partida são como as histórias as impactaram diretamente. “Mas, para isso é necessário localizar a nossa escrita: somos duas mulheres brancas e uma negra com distintos lugares sociais e diferentes afetos despertados na escuta das histórias dos trabalhadores e trabalhadoras.”, complementa Renata.
Um dos desafios para elas é utilizar a “escrevivência” como recurso metodológico para expressar a conexão do que foi ouvido e o que foi sentido sobre o trabalho na pandemia. A escrevivência, termo cunhado pela escritora Conceição Evaristo, surgiu do jogo de palavras entre escrever, viver, escrever-se vendo e escrever vendo-se. E assim a vida que se escreve está na vivência de cada pessoa, bem como cada um escreve o mundo que enfrenta. Acrescenta Flavia Souza (EPSJV/Fiocruz), “para a produção textual, nós não iremos pensar as narrativas dessas mulheres a partir de categorias de análise, nosso desafio é travar mesmo o diálogo com essas falas, não mascarando o nosso lugar. Então, realmente, a escrita que vamos produzir é a partir dos nossos afetos”.
A metáfora da guerra será uma questão a ser abordada por elas, uma vez que está inscrita também no feminino, nas mudanças no ambiente, na imprevisibilidade do trabalho e de outras linhas de frente, como os cuidados com os familiares e trabalhos domésticos. “A metáfora da guerra encobre quem são as guerreiras da saúde e apresenta algumas dimensões: a maioria são mulheres e tem o carater de vocação também muito presente no trabalho feminino. Pretendemos analisar essa dualidade do trabalho em saúde, que requer o cuidado, mas também trouxe sofrimento e adoecer principalmente durante a pandemia”, explica Anna Violeta.
Nas encruzilhadas e desafios, as pesquisadoras do eixo laranja apresentam algumas questões a serem exploradas: o que podemos chamar de (re)existência? Já é dado que as saídas encontradas pelos trabalhadores da saúde, de maneira a garantir o cuidado durante a pandemia, se encaixam como (re)existência? As (re)exixtências passam pela questão coletiva quando as trabalhadoras percebem que não estão sozinhas e que compartilham o mesmo caminho? Os engenhos cotidianos também são formas de reexistir, de driblar a escassez e as dificuldades?
E diante dessas e outras questões, a apresentação finaliza com as imagens do feminino, representadas por múltiplas mulheres. Uma das imagens foi retirada do artigo “Às feiticeiras, minha reverência”, de Djamila Ribeira. Nele, a filósofa e ativista reflete sobre a força das mulheres negras e suas representações

Os saberes e práticas do trabalho na saúde e “as dramáticas do uso de si”
Continuando os encontros do Ateliê, no dia 10/06, o eixo Saberes e Práticas, o eixo violeta, fez a apresentação dos assentamentos, encantamentos, partilhas e encruzilhadas, iniciando a construção textual que irá compor a Coletânea Respiro, construída com base nas experiências e vivências de cada eixo temático ao longo do projeto.
Os pesquisadores do eixo estão atentos aos saberes que os trabalhadores da saúde mobilizaram em suas práticas para superar os desafios da Covid-19, no contexto do trabalho e da vida. Procuram também apreender, além das questões técnicas, os sentidos das experiências profissionais nos níveis individual e coletivo para a tomada de decisão, na atenção e cuidado em saúde e reconhecer as práticas que foram renormalizadas ou criadas durante o trabalho na pandemia. “Para nós, foi importante olhar como eles viviam o cotidiano do trabalho no nível individual e coletivo, nas muitas atividades realizadas, diante dos conflitos bioéticos que emergiam, bem como da consciência da finitude tão presente nas muitas experiências de morte e de luto nesse período”, explica Celina Mannarino (INI/Fiocruz).
De acordo com o eixo violeta, é particularmente importante observar que, diante da proposta de um cuidado integral pelas equipes, há uma diversidade de estratégias, nos diferentes níveis de atenção em saúde, bem como nas relações envolvidas no cuidado, seja com o usuário, com seus familiares, entre os profissionais da equipe, com a instituição, com os gestores e do próprio trabalhador consigo mesmo. O sofrimento, trazido como conceito de penosidade, expressa-se com frequência por meio de sintomas somáticos, psíquicos e comportamentais. “Isto tudo dificultou bastante tanto a saúde do profissional, como a sua capacidade de escuta, diálogo e de lidar com a própria organização do trabalho. Esse foi o olhar mais abrangente que já podemos destacar como um dos resultados no nosso trabalho de pesquisa sobre os saberes e práticas”, complementa Celina Mannarino (INI/fiocruz).
O grupo utiliza as seguintes questões norteadoras para sua análise: “Que experiências, práticas e saberes foram acionados pelo trabalhador e trabalhadora, consigo, com o outro e com a instituição de saúde durante a pandemia?” e “Quais estratégias pessoais e coletivas podem mediar essas relações, modificando os sentidos das penosidades corporais e subjetivas?”.
A partir daí, os assentamentos trazidos partem da compreensão dos processos de trabalho sob o olhar da ergologia, na perspectiva dos trabalhadores e das subjetividades envolvidas no “produzir saúde”. No âmbito do Respiro, é importante a identificação das penosidades agudizadas neste período e os saberes e práticas adotados como forma de (re)existir no cenário de crise profissional e pessoal. E como as práticas e saberes permitiram aos trabalhadores se reinventarem neste período crítico, de forma a compreender e avaliar a pertinência de sua inserção nos processos de formação e de promoção da própria saúde.
Os encantamentos, materiais empíricos sistematizados pelo Respiro, são trabalhados a partir de uma abordagem qualitativa. O grupo violeta iniciou a análise de conteúdo das entrevistas orientadas por roteiro semi-estruturado e realizadas ao longo do projeto com os trabalhadores e trabalhadoras da saúde. Está em andamento a sistematização dos dados e a análise das narrativas que emergiram sobre os saberes e práticas acionados na experiência de vida e do trabalho. “Na sistematização dos dados, seguimos as macrocategorias “penosidades” e “(re)existências”, desdobrando-as em subcategorias temáticas que emergiram das narrativas, de acordo com a ergologia. Inserimos o material em um software de análise qualitativa, que permite a codificação, extração de relatórios, facilitando as análises a serem feitas com base no referencial teórico adotado”, complementa Magda Scherer (Labor/Unb).
Um dos desafios identificados é a compreensão da vida concebida como debate de normas e de valores em um meio que provoca o ser humano a reagir e a desenvolver estratégias diante dos limites das normas antecipadoras do trabalho. Neste sentido, de acordo com os pesquisadores, o trabalhador hierarquiza, faz escolhas, se autolegisla e recria em um processo permanente de renormalização e inventividade, o que constitui “as dramáticas do uso de si”. Assim, o trabalhador faz uso de si mesmo em função do que os outros lhe demandam e do que ele próprio se demanda, e faz uso dos demais, em um jogo expresso no coletivo de trabalho, expressando em suas narrativas um entrelaçamento de penosidades e (re)existências.
E nas potencialidades, destaca-se a compreensão do trabalho e do trabalhador em sua integralidade, a preservação da sua saúde, por meio de novas formas de pensar e agir em equipe. E nesse cenário surgem novos espaços de encontro que funcionam como redes de apoio. “Percebemos nas entrevistas que o dia a dia do trabalho na pandemia destacou o coletivo como um fator muito importante para se manter bem. No momento que uma pessoa caía, o grupo ia lá e a ajudava. Foi possível entender a dor do outro. Esse coletivo se fortaleceu e todos enfrentando o mesmo problema simultaneamente foi muito potente”, reforça Suze Rosa Sant´Anna (INI/fiocruz).
A apresentação do eixo Saberes e Práticas finalizou com uma das imagens produzidas pelo pesquisador Leandro Medrado (EPSJV/Fiocruz). A imagem é um convite para respirar, florescer e mudar o mundo de dentro para fora!

Condições de trabalhos e as histórias para adiarmos o fim do mundo
Retomando o Ateliê do dia 27/05, nossa partilha é sobre o eixo Condições de Trabalho, o eixo amarelo, que na ocasião apresentou seus assentamentos, encantamentos, partilhas e encruzilhadas para a produção textual da Coletânea Respiro, que será construída a partir das reflexões e vivências de cada eixo temático ao longo do projeto.
Um dos objetivos do eixo amarelo é olhar as dificuldades associadas à ambiência, organização e relações nos espaços de trabalho que compreendem as pressões e os constrangimentos presentes no dia-a-dia do cuidado em saúde. Isto envolve as circunstâncias que geram sofrimento, nas quais são experienciadas a falta de recursos e de medidas de proteção ao trabalho; a estigmatização que se desdobra em preconceito, exclusão e rejeição; as desigualdades ocupacionais em saúde; e as disputas, hierarquias, conflitos, segmentação e segregação entre e intragrupos ocupacionais.
“Nossa principal atividade é analisar as penosidades e as denúncias dos trabalhadores em relação ao que se entende de condições de trabalho”, explica a pesquisadora do eixo Maria Ruth dos Santos (EPSJV/Fiocruz). “O eixo passou por muitas modificações. No início, tínhamos a impressão de que todas as penosidades estavam concentradas no eixo das condições de trabalho. Nas primeiras reuniões com os trabalhadores, nossas preocupações estavam em como receberíamos as denúncias e quais canais criaríamos para recebê-las. Nós achávamos que todas as penosidades iam recair sobre este eixo. Mas, logo depois percebemos que as penosidades recaem sobre todos os eixos”, complementa Ruth.
Os assentamentos perpassam pelo entendimento do conceito de condição de trabalho no contexto pré e durante a pandemia, ou seja, as circunstâncias que geram sofrimento e nas quais são experimentadas a falta de recursos materiais, recursos humanos e de medidas de proteção ao trabalho. Indo mais além, interessa ao eixo olhar para a dimensão subjetiva, seja individual ou coletiva, de como se vivenciou o trabalho neste contexto, como, por exemplo, o sentimento de desvalorização e de invisibilidade. A pandemia traz diferentes dimensões de penosidades para aquelas que já existiam.
No que se refere aos encantamentos, que é a escolha e análise do material empírico, a pergunta norteadora é “Como a covid-19 repercute sobre os trabalhadores de saúde com a agudização de penosidades e o surgimento de novos agenciamentos e estratégias de (re) existência?”.
Em busca de possíveis caminhos, serão analisados os relatos feitos por trabalhadoras e trabalhadores em distintos espaços de “investigação-apoio” realizados durante os dois anos do projeto, como a formação profissional, os fóruns vivos, as pesquisas e notícias catalogadas e as entrevistas realizadas. “As nossas escolhas recaem sobre as histórias, relatos e depoimentos que aconteceram em ciclos temporais distintos, em diversificados segmentos de serviços e de diferentes trabalhadores da pandemia”, explica Ruth.
Nas partilhas dos resultados esperados, o eixo pretende discutir como a pandemia agrava uma situação de crise já existente, e como os marcadores de gênero, raça e classe se apresentam como condicionantes de vulnerabilidades para a Covid-19, além da disparidade entre diferentes categorias profissionais diante de distintas e desproporcionais condições de trabalho.
Dentre os desafios apresentados pelas pesquisadoras Ruth e Raquel Moratori (EPSJV/Fiocruz) está a busca pelo equilíbrio entre tempo de trabalho e tempo de vida em condições de remuneração adequada, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, capaz de garantir uma vida digna e proteger a saúde dos trabalhadores; a busca de igualdade de oportunidades e de tratamento, combatendo as formas de discriminação de gênero, raça/cor, etnia, idade, orientação sexual, pessoas com deficiência, dentre outras violências e discriminações.
“São tantas histórias e a complexidade de compreendê-las e interpretá-las ao mesmo tempo em que acontecem. Mas o que faltou contar? O que ficou resignado ao silêncio? De que outras formas e expressões essas histórias podem emergir?”, perguntam as pesquisadoras. Para elas, “entre (ultra) penosidades associadas às condições do trabalho e (re) existências, os trabalhadores de saúde teceram e reconfiguraram práticas, afetos, cuidados, encontros e os possíveis sonháveis, que segundo Ailton Krenak, é sempre bom poder contar mais uma história para adiarmos o fim do mundo. Os trabalhadores nos contaram muitas histórias e, a partir delas, iremos discutir as condições de trabalho”.
A apresentação terminou com imagens e poesias de autoria das alunas do Curso de Formação Respiro: sentidos do trabalho em saúde no cotidiano da pandemia.

Penosidades e (re)existências: um olhar a partir das Políticas e Gestão do Trabalho
O Ateliê do dia 27/05 reuniu as reflexões e a produção textual dos eixos Política e Gestão e Condições de Trabalho. Os dois grupos apresentaram seus assentamentos, encantamentos, partilhas e encruzilhadas, visando a produção da Coletânea Respiro, que está sendo construída com base nas experiências e vivências de cada eixo temático ao longo do projeto.
Inicialmente, falaremos sobre o eixo Política e Gestão do Trabalho, que está voltado para identificar os desdobramentos das políticas sociais regressivas e de ajustes econômicos pré-Covid no campo do trabalho em saúde. Pretende ainda analisar as políticas e estratégias de gestão do trabalho no enfrentamento da Covid-19. Uma das propostas para a Coletânea é discutir, a partir da perspectiva da precarização do trabalho, as penosidades e (re)existências em saúde na pandemia.
Como assentamentos, as pesquisadoras do eixo trazem o contexto de aprofundamento e adensamento das múltiplas crises já existentes na atual forma de organização social que experimentamos. Nesse contexto, a pandemia evidencia o desnudamento e o sucateamento do sistema de saúde, as desigualdades e as vulnerabilidades sociais. Por outro lado, mostra as múltiplas e complexas crises que derivam da condição histórico-existencial moderna do sujeito que trabalha: a crise da vida pessoal, da sociabilidade e da autorreferência. “Nós partimos do pressuposto que as penosidades e as (re)existências que emergem no âmbito do trabalho estão articuladas ao movimento mais amplo de precarização do trabalho em saúde, agudizado no contexto da pandemia”, explica a coordenadora do eixo, Carla Cabral (EPSJV/Fiocruz).
Os encantamentos, que são os materiais empíricos sistematizados pelo projeto, estão no âmbito das histórias contadas por trabalhadores e trabalhadoras que participaram de diversos espaços de investigação-apoio. De acordo com Carla, “a diversidade do material está relacionada aos diferentes momentos em que os relatos foram produzidos, possibilitando a compreensão de diferentes tempos de imersão dos trabalhadores nos serviços de saúde na pandemia, os diferentes perfis dos participantes, como gênero, raça e categoria profissional, e as diferentes temáticas enfatizadas em cada espaço, algumas específicas ao eixo”.
As partilhas, ou seja, a discussão dos principais resultados esperados pelo eixo, serão desenvolvidas a partir de algumas penosidades e (re)existências que foram sistematizadas e associadas à fenômenos relativos à temática política e gestão. “Durante os Ateliês, nós sistematizamos algumas categorias de análise e associamos essas categorias à fenômenos relativos a dimensões de precarização do trabalho. Uma dessas categorias é o sentimento de impotência e tristeza devido ao não reconhecimento do trabalho realizado no cotidiano dos serviços. Podemos associar essa categoria, por exemplo, às políticas negacionistas e medicalizantes em detrimento de políticas de prevenção e promoção”, reforça Carla.
As encruzilhas, em forma de desafios e potencialidades, surgem diante do desafio de pensar essa nova possibilidade de (re)construção do trabalho, chamado pelas pesquisadoras de “uma nova e possível morfologia do trabalho em saúde”, que emerge do sentimento de indignação frente à situação de precarização do trabalho a qual estão submetidos os trabalhadores da saúde.
Em paralelo e de forma complementar, as pesquisadoras realizam a catalogação de Editais de Seleção de trabalhadores da saúde, com o objetivo de mapear as estratégias implementadas pelas Secretarias Estaduais de Saúde de contratação para as Unidades Hospitalares e Emergências. Mais especificamente, procuram conhecer as instituições organizadoras dos processos de seleção; as estratégias de recrutamento, seleção, contratação, fixação e remanejamento de profissionais, valores atribuídos aos salários, subsídios e gratificações, indenizações; a carga horária/jornada de trabalho, escala e regime de plantões dos trabalhadores de saúde na pandemia.
“Complementando a primeira proposta que apresentamos hoje, com esse estudo queremos dialogar sobre a gestão do trabalho terceirizado, no qual aparecem as organizações sociais e as pessoas jurídicas no comando do enfrentamento da pandemia. O que houve foi a gestão dos leitos e não a gestão dos trabalhadores. Há uma alta rotatividade dos profissionais, os contratos são na maioria de três meses, muitos sem carteira assinada ou na modalidade de contrato temporário. Uma das imagens que nos mobiliza muito é aquela que diz: ontem fomos heróis e hoje somos desempregados”, finaliza a pesquisadora Maria Ruth dos Santos (EPSJV/Fiocruz).

A confluência de Nêgo Bispo
O #EncontroComAssentamentos apresenta a confluência de Antônio Bispo dos Santos, também conhecido como Nêgo Bispo.
Ele é escritor, mestre quilombola, lavrador, morador do Quilombo do Saco-Curtume, localizado em São João do Piauí, semiárido piauiense. Militante de grande expressão no movimento social quilombola e nos movimentos de luta pela terra. Está vinculado à abordagem decolonial e trabalha com os conceitos de colonização e contracolonização para designar os “processos de enfrentamento entre povos, raças e etnias em confronto direto no mesmo espaço físico geográfico” (SANTOS, 2015, p. 15). Nêgo Bispo propõe uma nova epistemologia para discutir a colonização nos atuais modelos de desenvolvimento adotados no Brasil. Entre suas obras, destaca-se Quilombos, modos e significados (2007) e a sua reedição Colonização, Quilombos: modos e significados, em 2015.
Nêgo Bispo trabalha com os conceitos de “confluência” e “transfluência”. Confluência é definida como a lei que rege a relação de convivência entre os elementos da natureza e nos ensina que nem tudo que se junta se mistura, ou seja, há diálogo entre diferentes cosmologias, entretanto cada uma se mantém com seus modos de perceber o mundo; é uma das mais belas e importantes relações com a diversidade. Desta forma, ela rege também os processos de mobilização provenientes do pensamento plurista dos povos politeístas. Já a transfluência é a lei que rege as relações de transformação dos elementos da natureza. E, pode-se dizer que rege os processos de mobilização provenientes do pensamento monista do povo monoteísta.
A confluência “foi um conceito muito fácil de elaborar, foi só observar o movimento das águas pelos rios, pela terra”, diz o autor. A transfluência demorou um pouco mais, “tive que observar o movimento das águas pelo céu. Para entender como um rio que está no Brasil conflui com um rio que está na África eu demorei muito tempo. E percebi que ele faz isso pela chuva, pelas nuvens. Pelos rios do céu. Então, se é possível que as águas doces que estão no Brasil cheguem à África pelo céu, também pelo céu a sabedoria do nosso povo pode chegar até nós no Brasil (SANTOS, 2018)”.
O Respiro é um projeto que conta com a colaboração de inúmeros pesquisadores oriundos de diversas matrizes de formação, por isso, nos apoiamos no conceito de confluência ensinado por Nêgo Bispo. Assim, percebemos que é possível combinarmos diversas maneiras de entender o mundo e compartilharmos esses pensamentos sem imposições e/ou pretensos regimes de verdade, sempre com respeito à diversidade de olhares. Bispo ressalta que a confluência é uma possibilidade em curso de harmonia entre todas as vidas. Além disso, nos apoiamos no pensamento circular que representa também um dos nossos assentamentos e orienta o fluxo de nossas reflexões, assim como conduz nossas práticas de pesquisa, pois:
“A capoeira é rodando, o samba é rodando, o batuque, a gira nos terreiros de umbanda e de candomblé… Tudo para nós é rodando. Tudo para os colonizadores é linear. É um olhar limitado a uma única direção. Nosso pensamento… nos permite dimensionar melhor as coisas, os movimentos e os espaços. Nos espaços circulares cabe muito mais…. E isso nos permite conviver bem com a diversidade e nos permite sempre achar que o outro é importante” (Santos, 2019, p.).
Links relacionados
“O nosso papel fazemos historicamente: preservamos, compartilhamos, confluímos”, diz Nego Bispo. Entrevista para Conectas Direitos Humanos.
Somos da terra. Piseagrama. Texto de Antônio Bispo dos Santos.
SANTOS, Antônio Bispo. Colonização, Quilombo: modos e significados. Brasília: INCTI; UnB; INCT; CNPq; MCTI, 2015.
Foto: Guilherme Fagundes, em Diálogos do Sul
Sentidos e Valores: reflexão, experimentação e produção textual
Durante os cinco encontros do Ateliê Respiro, as partilhas do projeto estiveram em pauta: catalogação de notícias e pesquisas, lives com trabalhadores, Fóruns Vivos, rodas de conversa e cuidado, entrevistas e o curso de formação profissional. No último Ateliê (13/05), inauguramos uma nova fase, na qual os sete eixos de trabalho, representados por sete cores, apresentarão seus assentamentos, encantamentos, partilhas e encruzilhadas (ver o Glossário Respiro), expressas nos desafios, potencialidades e sentimentos que foram aflorando durante a caminhada de cada eixo.
Assim, os encontros dos Ateliês passam a reunir as reflexões e a produção textual dos eixos para a produção da Coletânea Respiro, construída a partir dos dados empíricos coletados e reflexões do que foi experimentado e vivenciado ao longo dos dois anos de projeto.
O eixo Sentidos e Valores, também conhecido como “eixo branco”, abrindo as apresentações dos grupos, trouxe as reflexões e as produções textuais que aconteceram durante os cinco encontros passados do Ateliê. Esse eixo está particularmente interessado em investigar os processos de subjetivação do trabalho e dos trabalhadores da saúde no contexto da Covid-19, partindo dos discursos circulantes na sociedade que constituem as diversas concepções de vida e de trabalho que reverberam na realidade de ser trabalhador da saúde.
Os pesquisadores procuram entender, por exemplo, como a reiteração de determinados circuitos metafóricos, ou seja, as metáforas do “herói”, “combatente”, “santo”, “anjo”, estão associadas aos enquadramentos normativos que procuram conter as múltiplas possibilidades de significação do trabalho e do ser trabalhador da saúde no contexto da pandemia. “Nós buscamos entender como as metáforas utilizadas estão associadas aos enquadramentos normativos, que procuram conter as múltiplas possibilidades de significação do trabalhador da saúde e do trabalho. Durante as nossas discussões, fomos adquirindo uma certa maturidade para entender que as metáforas procuravam enquadrar normativamente um modo de ser do trabalhador, o que traz muitas questões que podemos explorar futuramente”, explica o representante do eixo Carlos Batistella.
Durante o encontro, o grupo explanou sobre a construção da ideia de reconhecimento como conceito central nas suas reflexões e assentamentos, partindo da crítica de Judith Butler, passando por Donna Haraway, Ailton Krenak, Luiz Rufino, entre outros. Os assentamentos também permanecem ancorados na pergunta “como a pandemia atualizou as penosidades e as (re)existências do trabalho em saúde?”.
Os encantamentos e as partilhas do eixo branco seguem as pistas da análise dos relatos dos trabalhadores da saúde coletados em diversas ações do projeto. Eles estão localizados no quadro “Aqui Dentro” veiculado no Jornal Nacional (JN), que reuniu relatos dos profissionais da saúde sobre suas vivências durante a pandemia. Eles estão também nas falas dos trabalhadores em atividades organizadas pelo Respiro, como as lives, as entrevistas e a formação profissional. Esses momentos apresentam no contexto da pandemia uma reflexão profunda dos participantes sobre as trajetórias, experiências, sentimentos, cotidianos e sobre o futuro.
O diálogo dos assentamentos com o material analisado sinalizou o risco e o medo enfrentado pelo trabalhador da saúde na pandemia em se deslocar do lugar de cuidador para o do doente. “Percebemos nos relatos analisados do JN, por exemplo, que o trabalhador que antes era cuidador, ele se coloca também como paciente em potencial ou como ex-paciente, ou seja, alguém que já teve Covid-19. E com a família é da mesma forma”, complementa Roberta Corôa, pesquisadora do Respiro e integrante do eixo.
A apresentação do grupo finalizou com algumas imagens identificadas durante a catalogação das notícias realizada pelo Respiro. Elas remetem para as metáforas do “herói”, “combatente”, “santo”, “anjo” e podem ser utilizadas como objeto de análise para a construção da Coletânea.

O encantamento de Luiz Rufino e Luiz Antonio Simas
No segundo movimento de encontro com os assentamentos nosso chamado é para a dupla de pensadores Luiz Rufino e Luiz Antonio Simas.
Rufino é pesquisador, escritor, educador nos campos da educação, crítica decolonial e antirracismo. Atua nos processos de formação em diferentes contextos educativos, outras epistemologias e pedagogias propondo outros tratamentos no que abrange a política, conhecimento e cultura. Se utiliza da ideia da encruzilhada como um enorme campo de possibilidades, prática de invenção e afirmação da vida. Defende a ideia de que a guerra colonial não está perdida e aposta na figura de Exú como possibilidade de reinveção do tempo e das maneiras de se produzir conhecimento a partir da noção de que todo conhecimento somente se manifesta na medida em que é (in)corporado. A (in)corporação é vista pelo autor como a noção que engloba os inúmeros saberes praticados, vibrados nos tons do sentir, fazer e pensar. Dessa maneira, Luiz Rufino nos convida a radicalizar a produção de conhecimento na medida em que aponta para perspectiva de rompimento da lógica moderno-ocidental que desincorpora os saberes.
Em “Pedagogia das encruzilhadas”, o autor nos apresenta pistas para prepararmos ebós políticos, epistemológicos e éticos contra o desencantamento do mundo, essa faceta da experiência colonial que nos cristaliza, enfraquece, mortifica. Reivindicando os “saberes de fresta”, mostra que nem tudo está perdido. Depende de nós resgatarmos as potências do que foi visto como pequenino, atearmos fogo no paiol colonial, que não apenas alimenta a casa grande, como lança nosso povo na fome ancestral.
Simas é escritor, historiador, sambista, compositor e professor de História no ensino médio. Tem mais de uma centena de artigos e textos publicados em jornais e revistas sobre a cultura popular brasileira. Em seus livros, procura resgatar a memória oral da cidade, especialmente da população marginalizada. Se autointitula como o historiador das miudezas, das coisas pequenas, das pedrinhas miudinhas, título inclusive de um de seus livros. O autor enfatiza que lhe interessa tudo aquilo que passa ao largo do olhar da maioria dos historiadores, que em sua maioria buscam as grandes narrativas, as grandes histórias. Simas se interessa por aquilo que ninguém está prestando a atenção, o trabalhador que batuca um samba na marmita durante a ida ao trabalho no trem lotado, a rezadeira que cura de espinhela caída a dor de amor, ou seja, gosta de ouvir e contar as histórias que existem nas brechas dos perrengues da vida diária.
Em seu Twitter, Simas (@simas_luiz) tece um fio sobre como o corpo e a corporeidade aparecem nas suas obras, que é também um dos pontos de convergência com Luiz Rufino. Nesse sentido, “de cara, o corpo é o primeiro que sofre o ataque do colonialismo”, seja a partir da domesticação colonial dele como talhado para o trabalho; como corpo masculino viril; como corpo feminino destinado à reprodução e como potencial lugar do pecado. Ao mesmo tempo, o autor nos alerta que o corpo ameaça a lógica colonial quando está disponível para ser o que ele quiser, para ir aonde quiser, viver suas potencias e contradições. O colonialismo não sabe lidar com o baile funk, não sabe lidar com a passista, com a pernada, com corpos garrinchados, pois são corpos que incomodam. Por isso, pretende destruí-los, reforça o autor.
“Por isso, a macumba soma, não se contrapõe, à máxima cartesiana: “vibro, logo existo”, “bato tambor, logo existo”, “gingo, logo existo”, “incorporo, logo existo”, “morro, logo existo (a condição mais linda do caboclo como o ser indomável)”, Luiz Antonio Simas, em @simas_luiz.
Os dois autores no livro “Encantamento. Sobre política de vida” riscam um ponto de diálogo com o Projeto Respiro. A obra foi escrita em parceria durante a pandemia da Covid-19 e disponibilizado gratuitamente, em formato de ebook. Para eles, encantamento é um manifesto macumbeiro a favor de uma política de vida, e que levanta um conjunto de estratégias e táticas para que saibamos atuar nas batalhas árduas e constantes da guerra pelo encantamento do mundo, encantamento este que vem sendo ao longo do tempo trabalhado como uma gira política e poética que fala sobre outros modos de existir e de praticar o saber. Eles consideram o livro como um manifesto a favor de uma “política de vida”, em contraponto à “política de morte” que temos visto em nossa sociedade.
Para o Respiro, entrar em contato com a ideia de Encantamento orienta o olhar para as (re)existências produzidas pelos trabalhadores da saúde no cenário da pandemia. Visto que nos direcionou para as experiências que emergiram como formas de vida e futuros possíveis. Os grupos de apoio, o cuidado de si, as renormatizações das práticas de trabalho, foram estratégias traçadas pelos trabalhadores, um contraponto à desesperança e a pesada realidade imposta pela pandemia.
Veja também:
– A Educação como Encantamento. EPSJV promove aula inaugural com a participação do escritor, professor e compositor Luiz Antonio Simas
– Aula Inaugural: A Educação como Encantamento. Luiz Antonio Simas
– Encantamento: sobre política de vida. Livro por Luiz Antônio Simas e Luiz Rufino
Foto: Walter Alves/Divulgação – Acervo Internet
“Curso Respiro: sentidos do trabalho em saúde no cotidiano da pandemia” no quinto Ateliê
O “Curso Respiro: sentidos do trabalho em saúde no cotidiano da pandemia” foi a partilha do quinto Ateliê Respiro, que aconteceu no dia 29/04. E para reviver os momentos de trocas, emoções, sorrisos e afetos vividos durante os 5 meses de apoio-formação os participantes receberam o “Mini Caderno do Curso: uma produção coletiva entre discentes e docentes”. Essa é uma versão preliminar do material que está sendo construído a partir de tudo que foi compartilhado na Comunidade de Aprendizagem e gerado durante o curso.
A partir da leitura do Mini Caderno, foi proposto aos participantes do Ateliê reviver a trajetória do Curso, retratando os impactos e afetações vivenciados por cada eixo na construção ou participação das aulas. E, ao mesmo tempo, sugerir respostas para a pergunta: “Como a pandemia atualiza as penosidades e (re)existências do trabalho em saúde?”.
A pesquisadora Maria Ruth dos Santos, representando o eixo “Condições de Trabalho”, destaca que foi afetada por muitas emoções e sentimentos na interação com as trabalhadoras de saúde, que são todas mulheres. “A partir dos encontros, eu pude perceber as feridas da pandemia sob uma perspectiva realista e situada nos contextos laborais dessas trabalhadoras que atuaram com espírito de missão e profissionalismo perante condições de trabalho tão cruéis”, reforça.
Para o eixo “Experiência e Trajetórias”, o curso proporcionou um espaço seguro para as discentes compartilharem as suas questões mais escondidas. “A rememoração e a possibilidade de escrever as suas próprias histórias e de se verem como protagonistas representou para elas uma transformação no olhar para futuro, para o presente e também para o passado”, afirma a pesquisadora Renata Reis. Para o eixo, a rememoração foi um recurso importante de (re)existência, que proporcionou também um movimento para rever a prática docente, uma vez que foi necessário transformar o conteúdo mais conceitual em um espaço onde a rememoração de cada uma delas aflorasse.
O pesquisador e também coordenador do curso, Carlos Batistela, a partir do eixo “Sentidos e Valores”, começa a sua reflexão compartilhando que foi afetado de diferentes formas: como pesquisador, educador, profissional de saúde e como ser humano. Pare ele, “o Curso possibilitou a experiência de estar com o outro. Foi um deslocamento da ideia de escola como um lugar onde o sujeito vai adquirir conhecimentos e conteúdos que o farão alguém. No curso, foram abolidas as separações entre profissões, entre nível médio e nível superior, entre profissionais da saúde e profissionais que atuam na saúde e mesmo entre professoras e alunas”.
Já para o eixo “Saberes e práticas”, o curso veio para consolidar um entendimento maior sobre o próprio eixo. Ao rever o material preparado para as aulas, os pesquisadores relembraram que foi construído um caderno interativo para que as participantes pudessem por meio de narrativas reflexivas expressarem saberes, percepções e sentimentos. E a partir daí, foi possível perceber como as sensações vivenciadas, sentimentos e perceções do corpo os ajudaram a modificar suas práticas. Celina Mannarino, pesquisadora do INI/Fiocruz, lembrou da “mãozinha do amor” e como o incômodo dos trabalhadores da saúde em ver aquela “mão fria” de uma paciente no leito provocou sentimentos, afetos e vivências que levaram a criatividade, na tentativa permanente de reinterpretar ou transgredir certas normas que lhe são propostas.
Representando as alunas do curso, Lívia Bezerra Rodrigues define o que foi vivenciar essa experiência: “O curso foi um momento de cruzamento de vidas… Nós fomos nos transformando com vocês, vivemos diferentes fases, do choro de dor, passando pela risada boba de alegria até o choro de emoção. Todas as lágrimas durante esse Ateliê foram de felicidade, gratidão e emoção. É olhar para o que nós vivemos…e perceber que foi realmente, mágico, especial. Eu não sei qual foi a potência que vocês pensaram durante a concepção do curso, só sei a potência que chegou em nós, e chegou como um Tsunami.”
O encontro terminou com o convite para a participação na produção da versão final do Caderno do Curso, “o mini caderno preparado para o Ateliê foi uma amostra do que nós ainda esperamos fazer coletivamente com todos os docentes e discentes. Essa versão é apenas o início”, complementa Eliane Chaves, uma das coordenadoras do Respiro e do curso.
Sobre o Curso Respiro: sentidos do trabalho em saúde no cotidiano da pandemia
A proposta do Curso foi construir um espaço de diálogo e troca entre os trabalhadores da saúde, sendo os encontros uma pausa consciente e acolhedora para reflexão e compartilhamento de conhecimento, sentimentos e vivências do mundo do trabalho em tempos da Covid-19.
A formação teve como estratégia pedagógica a metodologia participativa, a partir da perspectiva de “apoio-formação”, centralidade na escuta, acolhida e troca de experiências sobre as penosidades e (re)-existências vivenciadas no processo da pandemia, pretendendo ser uma forma de apoio aos trabalhadores das instituições de saúde.
Foto de Capa do Mini Caderno: Autoria de Lívia Rodrigues, a partir das discussões sobre a construção da atividade final do Curso no seu grupo de trabalho.
Encontro com assentamentos: Ailton Krenak
Iniciamos hoje uma série de postagens para vivenciar e (re)conectar com os nossos assentamentos e ao mesmo tempo deixar nossas ofertas. Mas, você sabe o que consideramos como assentamentos? Se sim, vamos apenas relembrar…
Assentamento pode ser definido como ato ou efeito de assentar(-se), ajustamento ou colocação, nos respectivos lugares, das várias peças de uma construção.
Entretanto, na Cosmologia africana, na qual nos inspiramos, assentamento é a morada do Orixá na terra, construída com elementos sagrados da natureza e onde os Iyàwòs (iniciados) deixam suas ofertas.
Assim, para o Respiro, inspirados no trabalho de Luiz Rufino e Luiz Antônio Simas, os assentamentos são o chão de onde reverbera a vida. São fundamentos existenciais, teóricos, éticos, metodológicos e da prática nos serviços de saúde. É a partir desses referenciais que traçamos conexões de saberes e afetos, buscando caminhos possíveis de criação de novos modos de vida e trabalho para o trabalhador da saúde.
Foi na Primeira Jornada Respiro, em 04 de setembro de 2020, que os pesquisadores lançaram as sementes para o enraizamento do grupo a partir das palavras de força respirar-(co)mover-(re)existir. Naquele momento, o referencial do projeto começou a ser delineado, em um processo vivo que dura até hoje. Nossas bases seguem sendo revisitadas, recriadas e reassentadas a partir do surgimento de outras conexões, dos encontros e da reflexão sobre a experiência de estar aqui e agora.
E será com Ailton Krenak nosso primeiro movimento de (re)conexão com nossos assentamentos e oferta para nossos interlocutores e parceiros.
Krenak nasceu na região do vale do rio Doce, um lugar profundamente afetado pela extração de minério e, consequentemente, pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em novembro de 2015. Ele é hoje um dos mais influentes pensadores da atualidade e vem trazendo contribuições fundamentais para lidarmos com os desafios contemporâneos, como a pandemia e aquecimento global. Destacamos duas obras que nos trazem conexões de saberes e afetos.
A obra “Ideias para adiar o fim do mundo” nos alerta sobre a crise de percepção da humanidade como algo separado da natureza. Krenak nos coloca a refletir e sentir que somos todos iguais e não superiores aos demais seres. E, somente, a partir dessa consciência que será possível ressiginificar a nossa existência e refrear nossa marcha insensata em direção ao abismo, diz o escritor. “Minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar outra história”.
Em “A vida não é útil”, uma adaptação de duas conferências e uma entrevista realizadas em Portugal entre 2017 e 2019, Krenak aponta, a partir das reflexões provocadas pela pandemia da Covid-19, as tendências destrutivas da civilização para o consumismo desenfreado, devastação ambiental e uma visão estreita e excludente do que é a humanidade. Ele nos alerta criticamente que a ideia da humanidade como algo separado do planeta e de todos os seres que o habitam seria a fonte do desastre socioambiental que vivemos.
“Foi impressionante, durante a pandemia, como aceitamos a convocatória para ficar em casa e fazer o distanciamento social. Salvo alguns excêntricos, todo mundo que pôde concordou com ela. Ora, se somos capazes de ouvir um comando desses, todos ao mesmo tempo, de permanecermos em casa, por que não seríamos capazes de ouvir o comando de parar de predar o planeta? De parar de destruir os rios e as florestas? Esse é um valor transcendente” (Ailton Krenak em “A vida não é útil”, pg 54).
Assim, o Projeto Respiro nos convoca, por meio dos seus assentamentos, ao giro, ao rodopio, a espiral, com o intuito de nos reconectarmos com a nossa história, com a terra, que nos (Orí) ente a outra maneira de sentir, ver e perceber o mundo. E que o campo da saúde seja apenas a flecha que nos aponta o caminho.
Ailton Krenak em um belo e vital diálogo com o Respiro
Na primeira edição do curso “Respiro: sentidos do trabalho em saúde no cotidiano da pandemia”, as alunas, professores e convidados foram brindados com a aula inaugural extraordinária de Ailton Krenak.
A potência de suas palavras tem guiado o Respiro na jornada de conhecer e apoiar trabalhadoras e trabalhadores da saúde na pandemia, a partir de algumas pistas para a (re)existência do Cuidado, em um sentido mais amplo, decolonizante e gerador de vida.
Para assistir na íntegra “A vida não é utilitária – Uma conversa entre Ailton Krenak e trabalhadores da saúde”: https://www.youtube.com/watch?v=XOPHhwNPUrY
Ateliê Respiro IV: entrevistas experimentadas pelos sentidos (parte II)
Na continuação das postagens sobre o quinto encontro do Ateliê Respiro, que aconteceu no dia 08 de abril, a partilha é sobre vivência das entrevistas realizadas com os trabalhadores da saúde e interlocutores do projeto.
Para experimentar as entrevistas, o Ateliê revisitou a aula inaugural do Curso Respiro com Ailton Krenak que traz a “existência como fruição, que nos permite dizer que a vida é uma dança cósmica…que pode estar presente na nossa experiência daquilo que chamamos trabalho…” Krenak diz que fruição está relacionada às coisas que são experimentadas pelos sentidos: ver, ouvir, sentir, saborear, cheirar… que ativam ressonâncias dentro de nós, que se movem para encantar e tocar nossa sensibilidade e expressa o que estamos vivendo ou sentindo muito vividamente.
A partir de Krenak, o desafio feito aos participantes foi dançar e experimentar com os sentidos as narrativas e testemunhos dos entrevistados sobre as experiências de vida e trabalho na pandemia. As entrevistas aconteceram em encontros com trabalhadores de saúde de diversas categorias profissionais que, voluntariamente, se dispuseram a dialogar e a refletir sobre as repercussões da Covid-19 no trabalho e na vida, em face do desafio sempre presente em entrelaçar investigação e apoio, enquanto processo cocriativo de sujeitos em diálogo constante sobre as dimensões do trabalho em saúde na pandemia.
Rariane Flor, interlocutora do Respiro e participante do Ateliê, nos brinda com o seu testemunho: “ouvi vocês falando é sempre muito mágico, eu costumo falar que quando temos esse contato, mesmo que virtual, para mim, enquanto pessoa e profissional é muito positivo e reflexivo também”. E, a partir dos sentidos experimentados na “dança com as entrevistas”, ela faz uma reflexão sobre a sua prática enquanto enfermeira de consultório de rua, “nós sentamos no chão para conversar com o outro e por mais que pareça diferente para alguns, para nós acaba sendo normal. No hospital, você olha para o paciente e já olha de cima para baixo, e quando sentamos em uma calçada e conversamos olhando no olho, de forma igualitária, o atendimento é diferenciado. Eu não me coloco melhor que o outro, me coloco como alguém que está ali para ajudá-lo e que teve a oportunidade de estudar e que está naquele momento prestando esse cuidado”.
Rariane encerra o encontro e emociona os participantes com a leitura do texto “Não somos lixo”, de Carlos Eduardo Ramos, morador das Ruas de Salvador.
Não somos lixo
Não somos Lixo nem bicho.
Somos humanos.
Se na rua estamos é porque nos desencontramos.
Não somos bicho e nem lixo.
Não somos anjos, não somos o mal.
Nós somos arcanjos no juizo final.
Nós pensamos e agimos, calamos e gritamos.
Ouvimos o silencio cortante dos que afirmam serem santos.
Não somos lixo.
Será que temos alegria? Às vezes sim…
Temos com certeza o pranto, a embriaguez,
A lucidez e os sonhos da filosofia.
Não somos profanos, somos humanos.
Somos Filósofos que escrevem
Suas memórias nos universos diversos urbanos
A selva capitalista joga seus chacais sobre nós.
Não somos bicho nem lixo, temos voz.
Por dentro da caótica selva, somos vistos como fantasma.
Existem aqueles que se assustam,
Não estamos mortos, estamos vivos.
Andamos em labirintos.
Dependendo de nossos instintos.
Somos humanos nas ruas, não somos lixo.
Carlos Eduardo Ramos, o Cadú, Morador das Ruas de Salvador.
Leia também: Ateliê Respiro IV: Rodas de Conversa e Cuidado (parte I)
Ateliê Respiro IV: Rodas de Conversa e Cuidado (Parte I)
O quarto encontro do Ateliê Respiro, que aconteceu no dia 08 de abril, foi cercado de emoção e poesia ao reviver as Rodas de Conversa e Cuidado e as entrevistas realizadas com os trabalhadores da saúde e interlocutores do projeto. A manhã foi organizada em dois momentos. No primeiro, tema desta postagem, a partilha foi sobre a experiência das Rodas de Conversa e Cuidado.
As Rodas são atividades do Respiro que também colocam em prática a metodologia apoio-investigação, apoio que busca sustentar a produção de sentidos potencializados de vida e investigação que procura aprofundar a compreensão do vivido. “A intenção das rodas foi tecer pequenas jornadas coletivas, em três encontros de uma hora e meia, que envolveram compartilhamento das experiências cotidianas de vida e trabalho, entendidos como fluxos contínuos, práticas de cuidado e mediação de saberes ancestrais e contemporâneos”, complementa Patrícia Ferreira.
As rodas seguiram três momentos metodológicos, em que foram partilhados temas específicos da Espiral Respiro: respirar, co-mover, (re)existir. O tema Respirar é um convite ao desnorteamento que chega com a demanda urgente de respirar como direito usurpado de muitos. Co-mover é caminhar e sentir junto os muitos modos de viver e sentir, é acionar uma relação de cuidado, integradora, amorosa, restauradora de sentidos e encontro de olhares. Re-exisistir é estar no mundo de outra forma, é a potência de vida que insiste em transbordar pelas frestas e que incorpora novas práticas e saberes que ampliam a arte de cuidar.
Os encontros das rodas foram trabalhados com frases e perguntas abertas que dinamizavam a fala das trabalhadoras e dos trabalhadores e possibilitou ouvir o que era percebido como penosidades e composições de futuros possíveis. “São perguntas que vão remeter para as penosidades, mas também para as (re)existências”, reforça Patrícia.
A imagem final da partilha sobre as rodas foi um cogumelo, que inspirada na antropóloga Anna Tsing, está associado à (re)existência, pois tem a capacidade de nascer em florestas e mundos devastados e começar a regenerar e trazer vida de volta para essas terras.
Em seguida, o encontro foi brindado com a leitura de poesias, como o “Feitiço da gratidão radical”, escrito por Adrienne Maree Brown
“um feitiço para lançar quando encontrar uma pessoa desconhecida, camarada ou amiga que trabalha pela justiça e liberação social e/ou ambiental:
você é um milagre caminhando
eu te saúdo com maravilhamento
em um mundo que busca se apropriar
da sua alegria e da sua imaginação
você escolhe ser livre,
todos os dias, como uma prática.
eu jamais saberei
as dificuldades que você passou para chegar aqui,
mas sei que você nadou contra a correnteza
e que houve momentos de solidão
eu quero que você saiba
que eu honro as escolhas que você fez em solitude
e honro o trabalho que você fez para pertencer
eu honro seu compromisso com aquilo que é maior que você
e sua jornada
para amar esse recipiente específico de vida
que é você
você é suficiente
seu trabalho é suficiente
você é necessária
seu trabalho é sagrado
você está aqui
e eu agradeço”
Dois anos de pandemia: uma conversa com os trabalhadores da saúde
Como está a experiência de viver e trabalhar após dois anos de pandemia? Quais são os sentimentos vividos e compartilhados? E possível olhar para o futuro? O que esperar do trabalho em saúde? Há possibilidades para (re)existir?
Ainda hoje algumas perguntas permanecem. E, em busca por possíveis caminhos, pesquisadores, profissionais de saúde e interlocutores do Projeto Respiro se encontraram virtualmente para uma conversa sobre os dois anos de pandemia. O evento aconteceu na noite de 29 de março.
Os convidados, que também estiveram presentes na live de março de 2021, foram Ernesto Faria Neto, médico da Atenção Primária em Saúde/CSEGSF/Ensp/Fiocruz e Mariana Machay, enfermeira chefe do serviço de enfermagem do INI/Fiocruz. A conversa foi mediada por Celina Mannarino, médica e pesquisadora do INI/Fiocruz e Marcia Lopes, docente e pesquisadora da EPSJV/Fiocruz.
A abertura foi realizada por Celina, que enalteceu a possibilidade de, após 1 ano, voltar a vivenciar e partilhar com os convidados as experiências durante a pandemia, seguindo a metodologia apoio-investigação do Projeto Respiro. “No projeto, a nossa proposta é ter o apoio em todos os momentos, por estarmos atentos ao fato das penosidades no trabalho e na vida já presentes no cotidiano do trabalhador com diversas precariedades e que a pandemia fez emergir tantas outras,” ressaltou a pesquisadora.
Experiência de viver e trabalhar após dois anos de pandemia
A enfermeira Mariana iniciou sua fala destacando que é possível apontar pontos positivos ao longo desses dois anos: “Penso que melhoramos em relação a diminuição das distâncias, principalmente através dos encontros virtuais, lugar onde podemos nos expressar abertamente. Melhoramos também enquanto ciência, nunca se pesquisou tanto e nunca tivemos respostas de forma tão ágil. Fomos capazes de experimentar momentos de altruísmo e trocas”.
Em seguida, a enfermeira ressaltou o deslocamento da valorização do profissional de saúde como herói no início da pandemia para o profissional desvalorizado e esgotado de hoje. “Enquanto todos estavam em casa, nós tivemos que ir para a rua, para os hospitais, unidades básicas e tivemos que enfrentar o desconhecido. No auge da pandemia recebemos o reconhecimento da sociedade. E agora já não é mais assim, o que eu percebo são profissionais extremamente exaustos pela excessiva carga de trabalho.”
Para o médico Ernesto, no primeiro ano foi difícil lidar com o sofrimento diário, a sobrecarga de trabalho e o medo de adoecer, que ainda persistem. Ele destaca que atualmente conhecemos melhor a doença, entretanto, o que é mais estressante é a política de promover a desinformação e o pânico, atrapalhando o enfrentamento de uma doença tão grave. “Nesse momento, há uma pressão para a volta ao possível cotidiano de normalidade, as pessoas que estavam no presencial se depararam com quem estava no regime remoto e isso gera muitos transtornos. Quem volta ao regime presencial enfrenta muita dificuldade, sofrimento, angústia e medo”, complementa.
As estratégias para o cuidado de si
Os participantes partilharam como conseguiram se reinventar e sobreviver aos impactos da pandemia. Mariana buscou terapia, meditação e o apoio nos seus pares. Para a enfermeira, um momento de cuidado estava nas relações além do ambiente de trabalho, em momentos que pôde se conhecer melhor e conviver com outros mais de perto.
Para Ernesto, no primeiro ano, o refúgio estava nas pausas prolongadas durante o final de semana no sítio onde esteve com a família. Atualmente, ele recorre a acupuntura e, assim como Mariana, também se aproximou dos pares e promoveu encontros, espaços de escuta e de abraços. “Apesar das restrições, como estávamos todos dias juntos, nós decidimos que podíamos nos abraçar um pouquinho. E isso ajudou muito”, lembra o médico.
Olhando para o futuro
Ernesto reflete, enquanto médico, sobre as discrepâncias salariais que afetam as diferentes categorias profissionais. “Meu sonho é que as condições de trabalho fiquem um pouco mais iguais, talvez o campo do trabalho fique mais leve”.
“Eu sempre tenho esperança”, diz Mariana. Ela complementa: “Acredito que podemos melhorar e que essa onda irá se estabilizar e vamos conseguir nos reorganizar. No início da pandemia eu tinha a esperança inocente de que sairíamos seres humanos melhores, mas após dois anos evoluímos para guerra… percebemos que o ser humano não conseguiu atingir o patamar que a gente acreditava.” Hoje, ela se apoia no que nomeia de esperança realista, na qual as ações individuais afetam o coletivo e assim é possível promover mudanças.
E o Respiro, como continuar atuando após dois anos de pandemia?
O caminho é o contato, a presença física e a necessidade dos espaços de fala. Para os convidados, é preciso uma escuta ativa, capaz de promover possibilidade de melhoria no ambiente do trabalho, principalmente para o setor hospitalar. “Os profissionais de saúde estão sedentos por contato”, reforçam.
As mediadoras Celina e Marcia apontam para esperança como uma possibilidade para (re)existir. E recorrem à fala dos convidados na live de 2021 “a arte do encontro como inspiração” e o “encantamento do cuidar do outro”, ressaltando que “o cuidado de si remete também ao cuidado do outro em uma construção coletiva, assim seguimos no desejo que esse movimento seja um gancho de interação, inspiração, partilha e solidariedade, reforçando a nossa esperança”, finalizam.
Após momentos de partilhas e reflexões entre os participantes, a noite terminou com a certeza da importância de revisitar todas essas questões, transcorrido mais um ano de pandemia.
“Algo também que reparei é que você não tinha no hospital lideranças negras, profissionais negros que liderassem, que estivessem acima nas coordenações, das rotinas e eu sentia muita falta disso porque a impressão que dá é que você não tem profissionais qualificados e nós sabemos que tem muitas pessoas que são mestres, que tem muita experiência, mas porque você não encontra as pessoas negras nas lideranças?” (Damiana, enfermeira, 4º Fórum Vivo, novembro de 2021).
Essa foi uma das provocações vivenciadas no fórum vivo A pandemia e o trabalho em saúde: desigualdades de classe, gênero e raça e revisitado no “Ateliê Respiro III: reflexão, experimentação, produção textual a partir dos fóruns e lives”.
No terceiro encontro do Ateliê, que aconteceu no dia 25 de março, seguindo a metodologia Respiro de apoio-investigação, os relatos dos trabalhadores continuaram ocupando o lugar central nas atividades, desta vez presentes nas Lives e nos Fóruns Vivos. Reviver os testemunhos partilhados durante o ano de 2021 possibilitaram aos participantes mergulhar no cotidiano de saberes, potências e sentimentos que tecem as relações entre (ultra)penosidades e (re)existências do trabalho em saúde na pandemia.
Esse sentimento foi também vivenciado pela pesquisadora do Respiro Maria Ruth dos Santos: “Percebi nos relatos dos fóruns e das lives a possibilidade de ampliar a compreensão do trabalho na pandemia percorrendo essas tantas histórias que foram contadas por diferentes trabalhadores. Eles anunciaram que a situação vivenciada não emergiu na pandemia, já existia antes. Sinalizaram que o já era ruim, ficou pior para a realização do trabalho. As dores do trabalho aumentaram. O trabalho acontecia em ambientes desfavoráveis, precários, inseguros, sem recursos suficientes, gerando limites aos cuidados com os que precisavam e sentimentos de impotência, desgaste e desproteção”.
O Respiro considera as lives e os fóruns como partilhas e possibilidades da experiência de “estar junto” com os interlocutores para acolher histórias e experiências que se entrecruzam nas vivências pessoais e coletivas dos seus participantes. E, assim, o Ateliê segue como um espaço potente para o mergulho profundo e coletivo nos relatos e sentimentos reunidos ao longo das atividades do projeto.
Lives e Fóruns: o caminho percorrido
Como foi a experiência desse último ano para os trabalhadores da saúde, desde que a pandemia foi deflagrada? Os termos “herói”, referido aos trabalhadores da saúde, e “linha de frente”, o que nos dizem? Como a pandemia incide sobre sentidos do trabalho e ideias de futuro? Essas, entre tantas outras, foram questões abordadas durante as lives realizadas pelo Respiro, que vivenciou a conversa sobre um ano de pandemia com os trabalhadores, representados por médico, agente comunitária de saúde, enfermeira e psicóloga. E abriu as portas do cuidado, conversando com a recepcionista da Unidade de Pronto Atendimento, em João Pessoa/PB e o maqueiro do Centro Hospitalar Covid-19/INE/Fiocruz, no Rio de Janeiro.
Já os fóruns, que foram temáticos e realizados mensalmente, aconteceram em cinco edições no segundo semestre de 2021. Os temas tratados foram direitos e garantias dos trabalhadores de saúde na pandemia, transformações no trabalho, saúde mental e trabalho, desigualdades de classe, gênero e raça, e o convite para juntos contruirmos possibilidades para (re)existir no trabalho e na vida.
Para assistir as Lives
“Um ano de pandemia: uma conversa com trabalhadores de saúde”:
https://www.youtube.com/watch?v=dWaFa5tM_3U
“Abrindo as portas do cuidado: conversas com trabalhadores da saúde na pandemia”, realizada em parceria o projeto “A saúde dos trabalhadores da saúde no contexto da pandemia da covid-19: prevenção e cuidado” (UFPB/CNPq) (@saudedotrabalhador_covid19) .
https://www.instagram.com/p/CP_c1KtJb5F/?utm_medium=copy_link
Projeto Respiro partilha os resultados das atividades de catalogação
Dando continuidade as atividades do Ateliê, o Projeto Respiro realizou em 11 de março o seu segundo encontro, com o tema: “Reflexão, experimentação e produção textual a partir da catalogação”.
Desde o início de suas atividades, a equipe de catalogação esteve dedicada às atividades de coleta, organização, sistematização, análise de pesquisas, artigos científicos sobre os trabalhadores de saúde e na identificação de seus relatos e depoimentos na mídia. E os resultados foram partilhados no II Ateliê.
“A atividade que chamamos de catalogação é uma pesquisa sobre fontes, bibliográfica e documental, que realizamos desde que o Respiro começou. Sempre estivemos muito atentos ao excesso de informação que circulou durante a pandemia, e ao contrário de sairmos gerando informação redundante, fizemos um trabalho na perspectiva de uma ciência sustentável, ou seja, olhar, organizar e sistematizar aquele conhecimento que já estava sendo produzido. E nessa perspectiva não extrativista fomos construindo nossa metodologia de apoio-investigação”, comentou a pesquisadora Roberta Corôa.
A catalogação é mais um espaço de busca para a atualização das penosidades e (re)existência do trabalho em saúde. “Os relatos catalogados na mídia atualizam as penosidades e (re) existências do trabalho na pandemia na medida que expressam as impressões sobre o modelo de sociedade atual e as formas como os modos de existência contemporâneos afetam a vida e o trabalho”, complementa Michele Nacif.
“Nas pesquisas, durante o período estudado, um dos temas de maior preocupação dos pesquisadores foi saúde mental, seguido da saúde dos trabalhadores, condições de trabalho e a percepção e fala dos trabalhadores da saúde sobre a pandemia”, comenta Flavia Souza. “Para exemplificar: entre os relatos e falas, destaco em uma nuvem de palavras alguns termos, como o medo que aparece muito e a preocupação com a própria saúde e de familiares”, observa Flávia.
E foi nessa direção que as atividades do II Ateliê foram propostas para os 7 eixos de trabalho. A partir da seleção de alguns relatos de trabalhadores presentes nas pesquisas e notícias catalogadas, os participantes fizeram suas reflexões e expressaram como essas narrativas os afetaram.
Sobre a atividade realizada em grupo, Isis Ferraz, trabalhadora da saúde e interlocutora do Respiro, comenta: “A atividade do Ateliê me fez refletir sobre o aporte psicológico que nós, trabalhadores da saúde, tivemos muito intensamente no início da pandemia e que ficou em ações direcionadas apenas nos três primeiros meses de isolamento. Algumas perguntas surgem nesse sentido, por exemplo, após 2 anos de pandemia, quais as atividades de saúde mental poderiam ser oferecidas para os trabalhadores, além da psicologia e psiquiatria? Como a saúde mental pode ser trabalhada em uma perspectiva interdisciplinar? Somente agora percebo como os trabalhadores do hospital que trabalho estão procurando por atividades voltadas para eles.”
Catalogação: o caminho percorrido
As pesquisas científicas foram coletadas em fontes de dados disponíveis on line, como Portal de Periódicos da CAPES, Scielo, Google Acadêmico, BVS MS, entre outras. O período do leventamento bibliográfico foi de julho de 2020 a dezembro de 2021. Inicialmente, foram priorizadas as pesquisas com resultados que contribuam para a compreensão das percepções dos trabalhadores e as repercussões da Covid-19 na vida e no trabalho desses trabalhadores da pandemia. Foram catalogados 27 trabalhos em 2020 e 23 trabalhos em 2021.
As notícias coletadas e analisadas foram aquelas que abordaram a temática do trabalho e dos trabalhadores da saúde na pandemia e que guardam relação com um ou mais eixos de análise do Projeto. A coleta das notícias e dos relatos dos profissionais da saúde foi realizada no jornal online G1 e no quadro “Aqui Dentro” veiculado no Jornal Nacional, da TV Globo. Foram catalogadas cerca de 230 notícias e 330 relatos dos profissionais da saúde.
Seguindo com as iniciativas que se aproximam das estratégias e diretrizes da Política de Ciência Aberta da Fiocruz, o Respiro compartilhará o material de pesquisa catalogado na “Biblioteca Respiro do trabalho em saúde na pandemia”, que já reúne mais de 80 artigos, publicados entre 2020 e a agosto de 2021. O objetivo é privilegiar a natureza colaborativa da pesquisa e democratizar o acesso e uso do conhecimento científico.
“Em 1530, quando nós negros fomos escravizados e trazidos como mão de obra gratuita para trabalhar para os senhores de engenho, fomos nós mulheres negras que servimos as sinhás como mãe de leite, a gente parou nossa vida na África para servir aos senhores, e continua sendo os senhores e não modificou, o senhor de ontem é hoje um governador, os capatazes de ontem são hoje policiais, o que se muda no governo, o que se muda coletivamente é desigualdade de gênero e raça, a gente não consegue sair desse vício, e a COVID veio para tirar debaixo do tapete as desigualdades, mostrar a desigualdade que realmente existe.’’(Luciene Rosa, Agente Comunitária de Saúde de Duque de Caxias)
É a partir do conhecimento produzido pelas experiências das mulheres negras que está ancorada a ferramenta da interseccionalidade. E é essa ferramenta que nos fornece o entendimento de que as diversas estruturas de opressão como raça, classe, gênero, sexualidade, território, entre outras, se entrecuzam e produzem sujeitos mais vulneráveis a esses trânsitos estruturais.
Pensemos a interseccionalidade utilizando a metáfora de várias avenidas, em que a estrada raça se cruza com as estradas de gênero, classe e no centro desse cruzamento estão localizados alguns indivíduos. No cruzamento ocorre o choque entre veículos o que produz, nas palavras da autora Carla Akotirene, ‘sujeitos acidentados’.
Nos atentemos para o fato de que essas avenidas estão localizadas no interior de uma matriz de poder colonial, em que houve o sequestro e exploração do povo negro pelo projeto colonizador, assim sendo, sublinha-se a existência de uma história de exploração, violência e morte que se (re) atualiza. Por isso, é essencial entendermos que a condição de ‘sujeitos acidentados’ está traduzida nos piores indicadores de saúde, educação, moradia para a população negra, sobretudo as mulheres, como descrito na fala situada-decolonial-interseccional de Luciene Rosa apontada no início desse texto. Luciene, mulher negra, Agente Comunitária de Saúde, moradora e trabalhadora da periferia do Rio de Janeiro, nos alerta que é preciso que estejamos cientes que a emergência sanitária ocasionada pela COVID-19 não criou desigualdades, mas sim, aprofundou todas aquelas que já existiam e que apenas se reatualizam através dos tempos.
Ao trazermos nossa reflexão para o atual cenário da pandemia causada pela Covid-19, é possível percebermos que as mulheres foram desproporcionalmente atingidas se comparadas aos homens. E, mais do que isso, as mulheres não foram afetadas igualmente pela pandemia. De acordo com o estudo de Lotta (2021) o Brasil no ano de 2020 concentrou 77% de óbitos de mulheres grávidas devido a complicações da Covid, sendo que a taxa de óbitos entre as mulheres negras foi 17% superior à das mulheres brancas. Para além da saúde reprodutiva a autora destaca que devemos observar as desigualdades de gênero em outras esferas como mercado de trabalho, em que no ano de 2020 a taxa de desocupação no terceiro trimestre ficou em 14,6% no total, sendo 12,8% de homens e 16,8% de mulheres, de acordo com o IBGE. Ademais, o estudo de Lotta (2021) sublinha que ao considerarmos o número de mulheres desempregadas no segundo trimestre de 2020, observaremos que 58% delas são negras.
Assim sendo, tanto a fala de Luciene Rosa quanto os dados da pesquisa de Gabriela Lotta nos chama a atenção para o fato de que vivemos em um sociedade em que existe uma desigualdade historicamente construída, assim como há a sobreposição de opressões produzindo permanentes estados de vulnerabilidade, especificamente para determinados grupos sociais. Basicamente, a lente da interseccionalidade nos proporciona o entendimento de como os eixos de poder, raça, classe, gênero estruturam o plano social, político e econômico gerando desigualdades.
Portanto, neste 8 de março, importante data da luta histórica de afirmação de direitos das mulheres, o Projeto Respiro enfatiza a importância de olharmos nossas agendas de luta através de lentes que ampliem e demonstrem que a categoria ‘mulher’ não é monolítica, tampouco homogênea. São diversos os marcadores sociais da diferença que atravessam os corpos das mulheres e que precisam ser vistos para que possamos avançar na direção de uma transformação social. Se faz urgente que o movimento de mulheres se organize a partir do lugar da diferença, em que mulheres negras, mulheres trans, mulheres com deficiência – e todas as múltiplas intersecções – se reúnam em torno de um projeto de vida.
Referências:
AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019. 152p.
CRENSHAW, Kimberly. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero.
LOTTA, G; DOSSIATI, D; MAGRI, G; CORREA, M.; BECK, A. A pandemia de COVID-19 e os profissionais de Saúde Pública no Brasil. FGV. Fundação Getúlio Vargas. Núcleo de estudos da Burocracia (NEB). 5ª Fase, Set./2021.
I Ateliê Respiro: Assentamentos, Encantamentos e Partilhas
O primeiro encontro do “Ateliê Respiro”, espaço para reflexão, experimentação e produção textual sobre o trabalho em saúde, aconteceu dia 18 de fevereiro e reuniu cerca de 30 participantes, entre pesquisadores e trabalhadores ligados ao estudo. Retomando os assentamentos, encantamentos e partilhas, a coordenadora Monica Vieira e a pesquisadora Patrícia Ferreira conduziram a discussão na direção de reafirmar e atualizar os fundamentos teóricos, metodológicos, práticos e afetivos do Respiro.
O movimento se complementa às três Jornadas Respiro, que ocorreram em 2020, quando nos encontrávamos para construir os caminhos da pesquisa e fazer pronúncias sobre como gostaríamos de seguir apoiando e investigando os trabalhares da saúde.Ao mesmo tempo, diferencia-se, uma vez que após quase dois anos de projeto e de encontros com trabalhadores de saúde, reflexões mais profundas e conscientes, ancoradas na vida e na experiência, se tornaram possíveis.
Assim, vemos surgir de forma mais delineada a metodologia apoio-investigação e as respostas para a pergunta “como a pandemia atualizou as penosidades e as (re)existências do trabalho em saúde?” É chegado o momento de fechar ciclos e registrar as tantas reflexões que fizemos juntos sobre o que é estar aqui e agora, em um mundo pandêmico, na teia de relações e afetos que nos levam por diferentes caminhos até o cotidiano do trabalho em saúde.
Em 2022, o Projeto Respiro continua vivo e pulsante por meio dos Ateliês e gostaríamos de reverberar o convite para que os trabalhadores que já estiveram conosco em outros momentos sigam também nesses encontros. Para participar, basta enviar uma mensagem para projetorespiro.epsjv@fiocruz.br
A intenção é que nas atividades em grupo possamos produzir sínteses intermediárias e provisórias, sustentadas pela metodologia apoio-investigação, para compartilhamos com a comunidade pelo nosso site e redes sociais. Como disse de forma muito sensível o pesquisador Carlos Batistella “fundamentos são sempre provisórios, porque é na alteridade, na contingência e nos encontros que assentamos a vida”.
Com carinho, Respiro.
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Pesquisadores do Respiro se reencontram para planejar as atividades de 2022
Na manhã desta última sexta-feira (04/02), pesquisadores do Projeto Respiro realizaram a primeira reunião de planejamento das atividades de 2022. A chamada teve o objetivo de aquecer os corações, a reflexão e a escrita para as novidades que estão por vir.
Na pauta, esteve a proposta inicial de estruturação da Coletânea Respiro, que reunirá a produção textual dos sete grupos detrabalho a partir dos dados empíricos coletados e reflexões do que foi construído e vivenciado ao longo dos dois anos de projeto.
Soma-se à Coletânea, a inauguração do espaço “Ateliê Respiro: reflexão, experimentação e produção textual”, considerado pela Gestão do projeto como um “lugar de trabalho onde se experimenta, manipula e produz saberes”. Será por meio desses encontros quinzenais que coletivamente os pesquisadores irão escrever a Coletânea. O primeiro encontro está previsto para 18/02 e terá como tema “Assentamentos, Encantamentos e Partilhas”.
Durante a escrita do material, o Projeto Respiro segue vivo e aberto aos trabalhadores da saúde. Dando prosseguimento ao ciclo de criação e de experiência da metodologia apoio-investigação Respiro, desejamos seguir compartilhando afetos e saberes com todos que de diversas formas e possibilidades estiveram no projeto ao longo de sua existência.
A intenção é que esses encontros sejam momentos para aprofundar as reflexões sobre as penosidades do trabalho na pandemia e as possibilidades de (re)existir. Serão momentos de mergulho profundo e coletivo nos relatos e sentimentos reunidos ao longo das atividades do projeto e uma oportunidade para revisitá-los. Acreditamos na potência do aprofundamento reflexivo a partir de perguntas e na “aparente” ausência de respostas.
Em que momento do Respiro estamos?
A reunião de planejamento iniciou com uma retrospectiva das atividades realizadas em 2020 e 2021. Como destaque estão as três jornadas Respiro que permitiram definir as bases do projeto e a identidade de cada grupo de trabalho, o incremento das postagens nas redes sociais, a disponibilização do blog, o aprimoramento da catalogação de notícias e pesquisas sobre os trabalhadores de saúde na pandemia e as atividades empíricas do projeto: fóruns, rodas de conversa e cuidado, entrevistas e práticas. Além da definição dos espaços para montar as Tendas Respiro no campus da Fiocruz no Rio de Janeiro e antecipação da realização do Curso Respiro, inicialmente previsto para 2022.
Com carinho, Respiro.
5ª edição do Fórum Vivo Respiro
O Respiro encerrou o seu ciclo de atividades do ano de 2021 com o V Fórum Vivo, que aconteceu em 14 de dezembro e contou com a presença de grande parte dos trabalhadores da saúde que estiveram presentes ao longo dos quase 2 anos de projeto. Foi uma noite para reafirmar laços, construir possibilidades e sonhar juntos.
O texto abaixo foi preparado por Maria Ruth dos Santos para a abertura do evento, uma das pesquisadoras responsáveis pela organização dos Fóruns Vivos. Compartilhamos ele com vocês e, ao lerem, esperamos que sintam a potência desse encontro assim como sentimos nessa noite tão especial.
Com carinho, Respiro.
Fala de abertura V Fórum Vivo Respiro – 14 de dezembro de 2021
Ao longo deste ano, realizamos várias atividades para apoiar os trabalhadores da saúde. Realizamos o Curso Respiro de apoio à formação dos trabalhadores, que terminou brilhantemente na semana passada; rodas de conversas e de cuidados; eventos online para conversas públicas com trabalhadores de saúde sobre as experiências na pandemia; incrementamos as redes sociais do projeto para disseminar e compartilhar conhecimentos e informações; entrevistas individuais para aprofundamentos com os trabalhadores de saúde sobre o trabalho e a vida em tempos de pandemia; estruturamos duas Tendas Respiro no Campus Fiocruz (uma, próxima ao CSEGSF e, a outra, próxima ao Centro Hospitalar) que serão inauguradas em breve, enquanto lugares de pausa, acolhimento e de oferta de práticas de cuidado aos trabalhadores da saúde; e construímos juntos cinco Fóruns Vivos Respiro.
Orginalmente pensado para acontecer na plataforma virtual do Respiro, o Fórum se transformou em Fórum Vivo, acontecendo virtualmente, nas telas dos nossos computadores e smartfones. Ele nasceu da esperança e confiança no diálogo aberto, franco, a partir do compartilhamento das vivências e experiências com os participantes.
Durante as suas cinco edições, os Fóruns floresceram e se fortificaram nos encontros de nossas telas. E os participantes aceitaram generosamente andar conosco nesta caminhada e responder sobre os temas que poderíamos conversar, ainda que não encontrássemos respostas para muitas perguntas e indagações.
Assim, a cada Fórum mergulhamos em temas complexos que foram iluminados pelos compartilhamentos que foram feitos, descortinando, mensalmente, universos diferentes e plurais. Conversamos animadamente sobre os direitos e garantias dos trabalhadores de saúde; as transformações e metamorfoses no trabalho, a questão da saúde mental e as múltiplas interseccionalidades de classe, gênero e raça no trabalho na pandemia.
A última edição do ano de 2021 foi preparada para ser um presente, uma homenagem e uma celebração coletiva pela honra de termos todos os participantes conosco nas múltiplas atividades neste ano desafiador para todos nós. Foi um convite para uma conversa amorosa e inspiradora, a partir das vivências e experiências de cada um no Respiro, no trabalho e na vida.
A conversa, intitulada de “Da crise à encruzilhada: (re) existir no trabalho e na vida. Construindo possibilidades. Vamos sonhar juntos?”, nos remeteu à reflexão do que nos une e reúne no projeto e que diz respeito às novas dimensões das penosidades e dos sentidos do trabalho em saúde, assim como as estratégias de (re)existências acionadas pelos trabalhadores de saúde durante a pandemia.
Para falar de encruzilhada, recorremos à Luiz António Simas. Para ele, encruzilhada não é um labirinto é um ponto de chegada. É lugar do extraordinário, lugar do encontro com o outro. “”Meu trabalho vive numa encruzilhada entre história, literatura, canção popular e poesia”, explica Simas. Na mesma direção, Thiago Teixeira, complementa e nos lembra que “a encruzilhada aparece como uma solução, pois ali nos olhamos, não nos perdemos ou nos diluímos. Na encruzilhada nós nos encontramos!”
Ainda apoiados em Antonio Simas, refletimos que o Brasil é um país de encruzilhada. É um país encruzilhado por saberes de floresta, por saberes de praias, por saberes do asfalto. As coisas se cruzam e vai se constituindo a cultura. Não precisamos ser eurocentrados, como se filosofia fosse algo produzido exclusivamente pela Europa. Como se a Europa fosse o umbigo do mundo e nós meras ramificações dessa centralidade. Penso, logo existo. Sim, evidentemente. Mas ouço, logo existo. Bato tambor, logo existo. Eu vibro, logo existo. Eu jogo bola, logo existo. Eu brinco, logo existo. Nós, do Projeto Respiro, pedimos licença ao Simas para incluir “Eu respiro, eu existo”.
Para saber mais:
Luiz Antonio Simas: https://revistatrip.uol.com.br/trip/luiz-antonio-simas-bato-tambor-logo-existo
Tiago Teixeira: https://revistasenso.com.br/direitos-humanos/a-encruzilhada-e-o-lugar-do-encontro/
Projeto Respiro celebra encerramento do curso sentidos do trabalho em saúde no cotidiano da pandemia
Dezembro marcou o encerramento da primeira turma do curso “Respiro: sentidos do trabalho em saúde no cotidiano da pandemia”, realizado por meio da parceria entre a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz) e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). O curso faz parte das atividades do Projeto Respiro e foi oferecido aos trabalhadores da saúde que atuam ou atuaram no cuidado durante a pandemia e tiveram o seu cotidiano transformado pelo novo coronavírus.
Com duração de cinco meses, o curso teve como estratégia pedagógica a metodologia
Participativa, a partir da perspectiva de “apoio-formação”, centralidade na escuta, acolhida e troca de experiências sobre as penosidades e (re)-existências vivenciadas no processo da pandemia.
Ao tomar como base a ideia de apoio-investigação, fundamento de nosso Projeto, o Curso pretendeu ser uma forma de apoio aos trabalhadores das instituições de saúde.
A intenção não era assim instrumentalizar as atividades técnicas e especializadas nos serviços de saúde, mas construir um espaço de diálogo e troca entre os trabalhadores.
Os momentos em sala virtual funcionaram como espaço de coexistência de saberes, vivências reconectivas, partilhas de sentimentos e inspirações, compartilhamento das experiências, reflexão e problematização da bibliografia recomendada. Nas atividades assíncronas, os participantes tiveram acesso à textos, filmes, vídeos e vivências que possibilitaram mobilizar suas percepções, sentimentos, perspectivas e significações sobre os temas propostos.
Para celebrar o encerramento, as participantes apresentaram em uma noite emocionante os projetos finais. O encontro trouxe a certeza de que o curso atingiu o propósito de ser uma pausa consciente e acolhedora para reflexão e compartilhamento de conhecimento, sentimentos e vivências do mundo do trabalho em tempos da Covid-19.
“Foi muito gratificante ver ecoando de uma forma muito verdadeira o que estava desde o início na nossa intencionalidade, ter a escuta como centralidade”, disse Carlos Batistela, um dos coordenadores do curso e pesquisador da EPSJV.
As alunas apresentaram as penosidades e as (re)existências no trabalho em saúde vivenciadas durante a pandemia em forma de arte, fantoches, crônica autoral e álbum de recordações. O desejo e o movimento de re(existir) ecoaram durante as apresentações. A imagem da (re)existência que surgiu foi a do pulmão que floresce em uma flor. “Apesar de toda dor, de todo o sofrimento, o curso nos trouxe um reflorescimento, um renascer coletivo”, disse uma das participantes.
Para outra, “o Respiro é diferenciado, o curso é dividido em vários eixos, mas no final, ele se resume em um único eixo, o eixo Respirar. E esse eixo é gigante, é respirar acolhimento, superação, histórias, consolo, esperança, amizade, afeto e resistência, possibilidades, vida, dores… O Respiro é assim, é como oxigênio que inspiramos. Eu levo do Respiro a possibilidade de fazer diferente”.
Essas falas vão ao encontro da conceituação que o projeto faz do movimento de re(existir) como um ato que passa pelo desejo de se estar no mundo de outra forma e igualmente envolve o incubar, o apoiar e o dar espaço para a produção de novos seres e/ou para a ressignificação de suas vidas.
Durante as apresentações, surgiram as palavras “Respiro, renascimento, sororidade, leveza, encontros, sorrisos, transformação, recomeço, partilhas, afeto” como pistas de como o curso apoiou as alunas, todas trabalhadoras da saúde que tiveram o seu cotidiano de trabalho atravessado pela pandemia.
Monica Vieira, coordenadora do Respiro e pesquisadora da EPSJV/Fiocruz, em sua fala citou a filósofa Judith Butler. “Judith Butlher nos ajudou a construir o curso e apresenta conexões com o que os grupos trouxeram. Ela nos chama atenção que a escuta significa ouvir além do que somos capazes de ouvir. E com isso, ela questiona como é possível ampliar a nossa capacidade de escutar. E, nós no curso, fizemos essa aposta, de começar pelo sentimento, pelo compartilhamento de experiências, pela escuta”.
Para Eliane Vianna, também coordenadora do curso e pesquisadora do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF), da Ensp/Fiocruz, o curso foi uma experiência muito singular para todos do Projeto Respiro. “Os alunos foram construindo o curso juntamente conosco. Esse curso vem nos ensinar muito, principalmente, em como é possível inovar e como a construção coletiva é a saída para o que estamos vivendo. E os trabalhos refletem isso”, complementou ao final das apresentações.
Com carinho, Respiro.
5ª edição do Fórum Vivo Respiro é um chamado para (re)existir no trabalho e na vida, construir possibilidades e sonhar juntos
Para fortalecer o espaço de acolhimento e troca entre os trabalhadores da saúde e a comunidade, celebrar o último encontro do ano e construir coletivamente possibilidades para o futuro em tempos de pandemia, o Projeto Respiro realiza, no dia 14 de dezembro, a quinta edição do Fórum Vivo. As inscrições já estão abertas e vão até 13 de dezembro.
Nesta edição o tema é “Da crise à encruzilhada: (re)existir no trabalho e na vida. Construindo possibilidades. Vamos sonhar juntos?” e para refletir sobre essa questão o encontro irá reunir trabalhadores e trabalhadoras da saúde, parceiros e interlocutores do Respiro numa conversa online. Esse é um encontro para estar junto de quem esteve presente ao longo dos quase 2 anos de projeto e reafirmar laços!
“Ao falarmos em encruzilhada, recorremos à Luiz António Simas. O autor nos lembra que encruzilhada não é um labirinto é um ponto de chegada, lugar do extraordinário, lugar do encontro com o outro”, explica Eliane Vianna, coordenadora do Projeto Respiro e pesquisadora do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF), da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). “Assim, a encruzilhada aparece como uma solução, pois ali nos olhamos, não nos perdemos ou nos diluímos. Na encruzilhada nós nos encontramos”, complementa.
“É com esse pano de fundo que pretendemos encerrar o último Fórum, encontrando caminhos para que juntos possamos imaginar um sonho acordado e coletivo, essa é a chance de alargar horizontes possíveis”, adianta Monica Vieira, também coordenadora do Respiro e pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz).
O Fórum Vivo integra as atividades de campo do Projeto Respiro e tem o propósito de dialogar e trocar experiências e vivências a partir da contextualização realizada pelos convidados e pelos participantes do evento.
O Projeto Respiro nasceu com a proposta de compreender e atuar sobre as penosidades do trabalho em saúde diante da Covid-19. O Projeto, desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) por meio do Programa Inova – Edital Covid 19, está vinculado ao Laboratório do Trabalho e da Educação Profissional em Saúde (Lateps), da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), e ao Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF), da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp).
Dia: 14 de dezembro de 2021 – Hora: 19:00 às 21:00h
Ao preencher o formulário, em breve, você receberá no e-mail cadastrado o link para acessar nossa sala virtual. A todos aqueles que solicitarem, será emitida Declaração de Participação.)
Textos de Referências para o 5º Fórum Vivo
LUIZ ANTÔNIO SIMAS: BATO TAMBOR, LOGO EXISTO: https://revistatrip.uol.com.br/trip/luiz-antonio-simas-bato-tambor-logo-existo
Bem-viver para irmanar o universo : https://revistasenso.com.br/direitos-humanos/a-encruzilhada-e-o-lugar-do-encontro/b
Classe, gênero, raça e as desigualdades no trabalho em saúde
No 4º Fórum Vivo Respiro e a nossa conversa girou em torno do tema “A pandemia e o trabalho em saúde: desigualdades de classe, gênero e raça”.
Nossas convidadas Luciene Rosa, Agente comunitária de saúde e militante do Movimento Negro Unificado (MNU), Simone Paiva, Agente de combate a Endemias e mestranda em Saúde Coletiva/UFF e Damiana Rangel, Enfermeira do INI/Fiocruz contaram sobre suas trajetórias de vida e suas experiências como profissionais da saúde durante a pandemia da COVID-19.
As histórias, trajetórias e vivências dessas três mulheres negras vindas da periferia e trabalhadoras da saúde se entrelaçaram em suas narrativas de resistência e… (re)existências.
O caminho trilhado por essas três mulheres de origem pobre, em um país em que as oportunidades para as mulheres negras são anuladas, evidencia que quando raça, gênero e classe se entrecruzam é a existência da mulher negra que é mais impactada. Isso ficou ainda mais evidente diante de uma emergência sanitária como a da Covid-19, que aprofundou iniquidades historicamente estabelecidas.
Todavia, nossas convidadas enfatizaram que, apesar das dificuldades impostas e agudizadas pela pandemia, há (re)existência. É por meio de movimentos sociais como o MNU, que as mulheres negras como Luciene Rosa, organizam suas comunidades e semeiam a esperança de futuro para os jovens fora da pobreza e da violência.
O que fica para nós desse encontro entre Luciene, Simone e Damiana, três mulheres negras e trabalhadoras, unidas pela luta antirracista e pelo SUS, é que o caminho pavimentado por elas está estruturado na construção contínua e viva de uma política de vida gestada mesmo diante do total descaso de um Estado que insiste em aniquilar corpos negros.
Projeto Respiro
4º FÓRUM VIVO
A cada novo encontro, o Fórum Vivo Respiro se fortalece como um espaço de acolhimento e troca entre as trabalhadoras e trabalhadores da saúde e a comunidade.
O Fórum integra as atividades de campo do Projeto Respiro e tem o propósito de dialogar e trocar experiências e vivências a partir da contextualização realizada pelos convidados e pelos participantes do evento.
Neste 4º Fórum Vivo Respiro vamos conversar sobre “A pandemia e o trabalho em saúde: desigualdades de classe, gênero e raça”.
As convidadas são Luciene Rosa
– TEC de Agente Comunitário de Saúde/ Militante Movimento Negro Unificado de Duque de Caxias; Simone Paiva – Agente de Combate às Endemias e Mestranda em Saúde Coletiva da UFF e Damiana Rangel – Enfermeira INI/Fiocruz e todas as demais trabalhadoras e trabalhadores de saúde e interessados no tema.
Dia: 09 de novembro de 2021
Hora: 19:00 às 21:00h
Local: Plataforma Zoom
Ao preencher o formulário, em breve, você receberá no e-mail cadastrado o link para acessar nossa sala virtual.
A todos aqueles que solicitarem, será emitida Declaração de Participação.
Com carinho, Projeto Respiro
A cada novo encontro, o Fórum Vivo Respiro se fortalece como um espaço de acolhimento e troca entre as trabalhadoras e trabalhadores da saúde e a comunidade.
Mesmo em meio aos novos desafios tecnológicos para simplesmente conversar – é microfone que não funciona, internet que cai e tantas outras coisas – e ao distanciamento de corpos que inevitavelmente dificulta a criação de vínculos e as trocas de afetos, temos seguido juntos.
No último dia 05/10 falamos sobre trabalho e saúde mental na pandemia.
A enfermeira Brunna Monteiro contou sobre a sua experiência como voluntária no programa Enfermagem Solidária, do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). “A iniciativa, coordenada pela Comissão Nacional de Enfermagem em Saúde Mental do Cofen, tem a participação de enfermeiros especialistas, mestre e doutores em Saúde Mental, que oferecem apoio aos colegas da linha de frente por meio de chat, disponível no hotsite Juntos Contra Coronavírus”, explica o site do conselho.
A fala de Brunna nos apresenta a formação de uma rede de apoio potente entre os trabalhadores da enfermagem, que passaram a contar com um espaço de escuta e acolhimento de queixas sobre o trabalho que “sempre existiram”, mas que se agravaram diante da emergência sanitária”, como ela mesmo disse.
“As queixas eram das mais diversas: medo, carga horária exaustiva demais, assédio moral, violência psicológica, discriminação por ser profissional da saúde, falta de EPI, falta de condições para descanso, de condições mínimas de trabalho. Eles apresentavam também uma baixa autoestima e o medo de transmitir para a família” – Bruna Fernanda
Esteve presente também Demilson Gomes, Técnico de Enfermagem do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz). A sua fala reforçou os desafios encontradas no início da pandemia, como, não saber como lidar com os equipamentos de proteção individual (EPI´s), o medo de levar o vírus para casa, e a incertezas e impotências no tratamento. Um ponto importante, ele conta, foi o impacto provocado pelo risco amplificado veiculado pelas notícias nos meios de comunicação: “a cada notícia parecia que todo mundo iria morrer, todos ficaram em pânico, foi preciso desligarmos a TV”, diz Demilson.
O início da pandemia foi desafiador e preocupante para aqueles que atuaram na linha de frente. Mas, Demilson relatou como como foi possível resistir… principalmente, no acolhimento coletivo das angústias e medos dos colegas. Concluiu lembrando que hoje há esperança de dias melhores.
A última convidada da noite foi Marta Montenegro, psicóloga, trabalhadora da Coordenação de Saúde do Trabalhador da Fiocruz e pesquisadora do Projeto Respiro no eixo “Saúde do trabalhador”.
Marta nos lembrou que o apoio aos trabalhadores em sofrimento deve existir cotidianamente e passa pelo engajamento de toda a equipe em relações afetivas e de cuidado uns com os outros. Ela acrescentou que no contexto do trabalho remoto e das dificuldades encontradas em muitos serviços, essa atenção ao outro se torna mais difícil e é nesse sentido que o apoio institucional se torna peça fundamental para cuidar de quem trabalha.
Emocionados, finalizamos o encontro com o sentimento de que é preciso continuarmos juntos, isso porque a pandemia não acabou para aqueles que trabalham com o cuidado nos serviços de saúde e lidam de perto com os novos protocolos e as mortes em seu cotidiano.
Ainda é preciso “esperançar”, uma palavra potente utilizada por Brunna, e nós, do Projeto Respiro, seguimos observando o mundo do trabalho em saúde e perguntando junto à comunidade “o que vem depois?”. Sem dúvidas, a resposta para essa pergunta depende da nossa capacidade de sonhar e construir coletivamente diálogos, espaços e ações que sirvam de base para um outro mundo possível.
Com carinho, Projeto Respiro.
3º FÓRUM VIVO
É com muita alegria que convidamos vocês a participarem do 3º Fórum Vivo Respiro, no dia 05 de outubro de 2021, das 19:00 às 21:00h, pela plataforma Zoom.
Iremos conversar sobre “Saúde Mental e Trabalho na Pandemia” com os nossos convidados Demilson Gomes da Penha, Técnico de Enfermagem do INI -Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/Fiocruz; Bruna Fernanda Monteiro de Barros, enfermeira, representante do COFEN – Conselho Federal de Enfermagem; Marta Montenegro, psicóloga, da Coordenação de Saúde do Trabalhador da Fiocruz; e todos os trabalhadores de saúde interessados.
O Fórum Vivo integra as atividades de campo do Projeto Respiro e tem por objetivo dialogar e trocar experiências a partir da contextualização realizada por convidados e das vivências trazidas pelos trabalhadores e trabalhadoras de saúde na pandemia.
Para participar, basta se inscrever e você receberá no e-mail cadastrado o link para acessar a sala virtual.
A todos aqueles que solicitarem, será emitida Declaração de Participação.
Com carinho, Projeto Respiro.
INSCREVA-SE
https://www.youtube.com/watch?v=XOPHhwNPUrY&t=2s&ab_channel=ProjetoRespiro
Assista a conversa de Ailton Krenak com trabalhadores da saúde na aula inaugural do Curso de Formação Profissional Respiro: Sentidos do trabalho em saúde na pandemia.
Em seu livro “A vida não é útil”, Ailton Krenak nos diz que “quando tudo está entrando em parafuso, você tem que ter alguém para chamar.
Krenak é para nós um chamamento. O autor é um dos assentamentos do Projeto Respiro e a potência de suas palavras têm nos guiado na jornada de conhecer e apoiar trabalhadoras e trabalhadores da saúde na pandemia.
Na aula inaugural do Curso Respiro convidamos o inspirador para um belo e vital diálogo sobre a forma de existir dos humanos no planeta.
Acreditamos que daí surgem algumas pistas para a (re)existência do Cuidado, em um sentido mais amplo, decolonizante e gerador de vida.
Que vocês possam se inspirar e sentir a potência desse encontro!
Com carinho, Respiro.